O vento e o tempo ... e não é nome de filme.
Têm dias em que o vento é o protagonista, pelos sons que emite (falas) e pela sua presença em cena (performance).
Sinto-o perpassar pelo meu corpo, como se este, fora uma peneira e eu nada vestisse. Tenho que fixar meus pés no chão, com toda a força, para que não me leve junto.
Quando o vento se esgueira pelos obstáculos, tentando passar pelos cantos, faz um redemoinho incômodo e desconcertante, pelo desconforto que causa.
Ao correr pelos espaços abertos, corredores estreitos - para ele e sua força descomunal - é obrigado a se comprimir e espremer, fazendo uivos e gemidos perturbadores, que se parecem com vozes humanas em desespero e lamento.
Acho que nesses dias envelheço, além da conta de um dia. O vento seca a vida que existe em mim, mais depressa do que o tempo. Me faz secar mais rápido, os lábios, pele, os olhos, enchendo-os de poeira. Tudo isso, sem ter nada de poético.
Irrita-me, que ele embarace meus cabelos e levante as minhas saias, leve para longe uma folha de papel que esteve na minha mão.
Prefiro os dias sem vento, apenas com uma leve brisa ... e quem não os prefere?
As calmarias são boas e bonitas tanto em terra, quanto no mar.
O vento em sua fúria, pode fazer estragos. Tenho medo dos meus ventos internos, da raiva com que irrompem das profundezas da minha alma. Podem me levar junto com eles, a lugares que não sei se gostaria de ir.
Vento e tempo, são dois furtadores de vida, nos roubam o frescor e a juventude, causam a nós, um efeito semelhante a um latrocínio, a medida em que nos tomam algo e nos matam aos poucos.
Sem dúvida, há muitos outros ladrões, mas vamos deixar assim - os dois.
O vento me faz literalmente sair do lugar onde estão os meus pés.
O tempo faz com que eu não saia do lugar, através dos meus pés, porque é como uma esteira rolante onde estou parada, que se move na direção do futuro, a um outro lugar, sem que eu perceba que estou em movimento, involuntário mas efetivo.
Talvez o vento acelere ou potencialize o tempo.
Não sei qual é mais cruel! Um é mais sutil, o outro mais contundente!
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