691 __ SONETOS E VASOS __ 15/05/18
Era um belo vaso. Feito do melhor material conhecido até então, resistente, para durar. Mãos delicadas e hábeis, o haviam modelado lentamente. Finas pontas de um instrumento aguçado, desenharam o contorno dos ornamentos que seriam preenchidos mais tarde, com as cores mais bonitas e harmônicas
.
Fora submetido ao tempo de criação, vagaroso e minucioso. Passou pelo forno, pelas altíssimas temperaturas, para que se desse a imortalização da obra.
Quando ficou pronto, era algo lindo de se ver, compensava o tempo gasto na sua elaboração. Recompensava as vistas, depois de todo o empenho. Além de beleza, tinha serventia, poderia conter água, flores, o que mais se imaginasse. Ah ele guardou muitas coisas! Era forte o bastante, com os líquidos, com os sólidos. E também com os aromas - ele os guardava.
O tempo de uso, foi ficando grande, e os cuidados para com ele, não foram os melhores. Um esbarrão aqui, uma lasca; uma pequena queda, uma rachadura. Sem receber a devida atenção, sem que reconhecessem seu real valor, com o decorrer dos descuidos sucessivos, passou a não servir mais como enfeite, nem como utensílio para conter os líquidos, sólidos - os aromas então, nem se fala.
Uma lasca numa lateral e usava-se a outra face, ainda perfeita. Incontáveis foram as vezes em que se tentou consertá-lo, pelos estragos nas quedas. Cada vez mais, ficava difícil juntar as partes, reparar os danos. Parecendo que faltavam pequenos pedacinhos, quase que dispensáveis, mas que não permitiam a colagem, porque as peças não se encaixavam, as lascas e as falhas não combinavam.
Além da serventia, perdera também sua forma original, a integridade, as cores, o brilho, a superfície intacta. Logo fora colocado a uma parte mais afastada do móvel, onde os olhos não o vissem, nem a ele, nem a sua decadência. Nem para museu servia mais.
Sinto falta do vaso, do jeito que ele era, mas já não quero mais consertá-lo, reconheço que em muitas vezes, as emendas ficaram piores do que o soneto. Um soneto é um soneto, um vaso é um vaso. Os sonetos duram muitas vidas, os vasos às vezes, nenhuma.
arte | christian schloe
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