sexta-feira, 24 de maio de 2019

973 __ SAIS DE MAR __ 24/05/19




Eu ia deixando pequenos buracos na areia molhada, a medida que caminhava, margeando o fim das ondas, que se deitavam exaustas e quietas, depois de muito barulho.

Logo após minha passagem, vinha uma onda que os apagava, como se a areia nunca tivesse sido tocada por pés humanos.  Os grãos se agitavam, revolvidos pela água e nivelavam a areia, refaziam-na, para que outros pés viessem pisá-la.

A água estava em temperatura agradável, assim sentiam os meus pés, mas resolvi conferir.  Parei de tangenciar as ondas e fui ao encontro delas.  

Enquanto aprofundava mais e mais o meu corpo, na água salgada, podia sentir a força da correnteza, que sempre vem descansar na faixa de areia, mas que antes abre caminho, vinda do centro do oceano, enfrentando o que vier pela frente.  Oferecendo uma certa resistência, ao que se atreve cruzar-lhe o caminho, fosse um obstáculo qualquer, uma barreira de corais, uma rocha, ou um simples corpo que se aventurasse a enfrentar sua fúria.

Meu corpo cortava as ondas, mas longe de enfrentar sua fúria, ou medir forças com elas, eu queria do mar, um simples banho de água salgada.  Eu precisava deixar com a mãe natureza, tudo o que eu não queria mais, mas eu também sabia que tudo que saísse de mim, não causaria poluição alguma, pois o mar, poder tem, de transformar o mal em bem, de guardar segredos, de ofertar alegria e muito mais.

Houve um momento, em que o mar me aceitou como parte sua, igualamos nossas temperaturas, senti que tínhamos composição física semelhante, com os mesmos sais.  Por um mais breve momento ainda, e muito breve, pudemos experimentar uma consciência única.

Num ritual de purificação, o sal curou minhas feridas do corpo e da alma, levou para o fundo, tudo o que não me servia mais, onde seria transformado, ou simplesmente se desmancharia, em meio aos elementos ocultos na água do mar.



arte | amanda cass

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