sexta-feira, 1 de abril de 2016

Candidíase: a vagina como local de cura



Candida albicans é o nome do fungo que provoca a candidíase. Ela é mais comum em mulheres, devido ao fato de a vagina ser úmida e ter de viver escondida e apertada em tecidos e cheirinhos sintéticos que não a permitem respirar. Candidíase aparece com maior facilidade um pouco antes da menstruação, quando a vulva fica ácida, ou em casos integrados de má alimentação, imunidade baixa e estresse.

Pelo menos uma vez por semana, alguma mulher me procura para dizer que está com candidíase e pedir ajuda e indicação através de um tratamento alternativo. Isso é muito complicado, porque, como tenho repetido, ao contrário da medicina ocidental, no conhecimento popular ou integral, cada ser humano é analisado individualmente, recebendo tratamento diferenciado, de acordo com suas histórias, memórias e dores físicas e emocionais. Por isso, este texto não pretende ser técnico, mas um convite ao autoconhecimento, sobre as emoções que levaram a sua vagina a manifestar uma infecção de Cândida.

A vulva é um centro de poder energético, o local do nascimento, de prazer e de percepção do mundo, é um centro orgástico que integra a fêmea ao meio. Muitas mulheres ainda não conseguem compreender esse órgão com essa bela, intuitiva e sagrada concepção, porque tudo que sai da vagina foi inferiorizado pelo sistema patriarcal, tendo de ser escondido e diminuído, como já escrevi aqui.

Sentir ardência nela, um dos sintomas da Cândida, a ponto de não conseguir manter relações sexuais ou masturbar-se — sexual ou mentalmente, até chegar ao êxtase espiritual (Santa Tereza e Hildegard de Bingen nos presentearam com escritos sobre isso) — é uma forma de não se permitir ter prazer e de não vivenciar a própria essência de Ser.

Pensamentos, sentimentos, memórias, dores emocionais, situações geradoras de estresse podem acarretar uma infecção de candidíase na mulher (ela afeta o sexo feminino, em grande maioria). Quando o fungo toma a vulva, é preciso deixá-la respirar, abandonar a calcinha, dar um tempo do açúcar na alimentação (o fungo se alimenta de sacarose) e fazer uso de antibióticos específicos via oral ou tópica, como pomadas. No entanto, a candidíase pode ser recorrente e virar uma companhia desagradável por meses e até anos, situação com a qual muitas mulheres “aprendem a conviver”: algumas já até me relataram que não viajam sem o tal antibiótico na mala ou que já não se lembram mais de como era a vida antes da candidíase.

Claro que é preciso mudar a alimentação (o livro da Sônia Hirsch está aí para nos auxiliar nessa missão) e o estilo de vida, mas esse paradigma de bem-estar inicia-se na cabeça, em uma mente sã, e, nos dias atuais, qual mulher consegue manter uma mente de samadhi em meio ao caos urbano, as dezenas de tarefas e exigências diárias, em vários aspectos, entre eles profissional, físico e emocional? Diante dessa vida de Mulher-Maravilha que é preciso ter, ou, pelo menos, fingir que se tem, o que é possível fazer quando a candidíase chega para valer? O que é possível, além de usar pomada e engolir o comprimido de antibiótico?

Quero lembrar que não sou médica e que, aqui, estou limitando-me a dar meu depoimento e o de tantas mulheres que ouço todos os dias. Há uma lista da vovó para o tratamento: suco de limão, iogurte, água com bicarbonato, vinagre de maçã. Há também os aromas catalogados como fungicidas, melaleuca e tomilho, por exemplo. Tenho total respeito por todos esses conhecimentos populares e científicos (no caso da aplicação como fungicida de alguns óleos essenciais). No entanto, como apontei anteriormente, cada indivíduo é único, e escrevo isso junto a um conhecimento empírico concebido através da candidíase mais forte que tive na vida.

Ela durou quase seis meses, e eu achava que conviveria com aquilo para sempre. Tomei todos os alopáticos possíveis, reeduquei a alimentação e, como uma estudiosa de plantas que sou, utilizei muitas que tinham aplicação fungicida. No entanto, conforme tratava-me com a melaleuca, a mais indicada para o caso dessa doença, minha situação piorava, ao ponto de abrir feridas.

Apesar de estudar a vibração energética dos vegetais (um ramo da terapia holística), eu demorei a entender por que melaleuca piorava o estado da doença. Hoje, compreendo que ela é muito forte, de frequência muito yang e combativa (não é à toa que ela mata fungos), e aí estava toda a questão da piora do meu quadro. Meu estilo de vida era de muita rigidez, autocobrança e culpa, e usar a melaleuca era como se eu estivesse tomando mais do meu próprio veneno.

Minha casa tem dezenas de frascos espalhados, com as mais variadas essências de plantas. Após ter utilizado os mais fortes fungicidas, alopáticos, suco de limão, iogurte natural e óleo de coco, e não obter melhoras, já não sabia mais o que fazer. Naquela época, mesmo com dores extremas provocadas pela candidíase, eu mantinha a minha rotina panóptica, trabalhando como louca, sem pausa, estudando como uma desesperada, virando noites, era preciso me sustentar! Recém-separada, saída de um relacionamento abusivo de dez anos em que era agredida de várias formas, recém-saída de uma doença grave, morando sozinha em uma cidade cara e bancando todas as contas, eu precisei virar a Mulher-Maravilha para mim e para o mundo. Eu não podia sucumbir, não podia cometer erros, não podia sentir preguiça, era preciso dormir pouco, trabalhar muito, varar noites estudando, ser rígida e ter disciplina, e, quanto mais melaleuca eu passava, pior ficava.

Um dia, com quatro ‘freelas’ diferentes para dar conta, uma dor pós-separação e uma mudança inteira para arrumar, eu prestei atenção no frasco de camomila, que parecia já querer falar comigo fazia tempo. Passava por ele todos os dias e pensava: “Camomila, tadinha, tão boazinha, não vai pode me ajudar.” Um dia, a noite foi chegando, as emoções foram saltando e um catártico choro saiu (fazia muito tempo que eu não me permitia chorar). Preparei um chá de camomila para me acalmar e a planta soprou para mim que ela gostaria de ser mais que um chá naquele momento.

Preparei um banho de assento: coloquei as flores, o óleo essencial e tudo o que tinha de camomila. Apaguei as luzes, acendi um incenso da planta, silenciei e, como um feto, permiti-me ser abraçada pelo banho de assento. Estava eu ali, naquele momento, como que dentro de um útero, sendo cuidada, acolhida, amada e amparada pela camomila. Ouvia a planta falar comigo que tudo ia passar, que precisava parar de cobrar-me, culpar-me pelo “tempo perdido”, ser menos rígida e que deveria permitir-me ter prazer. Naquele momento, não me preocupei com a candidíase, apenas senti aquele acolhimento mágico que estava acontecendo e que não sentia há décadas.

Quando já estava pegando no sono, fui dormir. Ao amanhecer, descobri que não havia mais candidíase. Era difícil de acreditar! Estava curada da noite para o dia, após meses de sofrimento. O que me curou foi a vibração da camomila, sua medicina de acolhimento e amparo. Eu não precisava de um guerreiro que matasse o fungo, mas sim, aceitar ser acolhida e amada. Os fungos estavam ali para lembrar-me da guerra diária e do calor emocional que haviam se instalado em mim.

Se você está com candidíase agora, peço que reavalie sua alimentação e estilo de vida, mas, principalmente, que observe qual a dor emocional que está abatendo justamente no seu órgão-arquétipo de prazer, liberdade e amor-próprio. Mais que seguir um catálogo para a cura, é preciso silenciar e ouvir o seu coração. A candidíase está aí na sua vagina, esse local tão sagrado, para lembrar-lhe que você não está vivendo de acordo com a sua essência.

Palmira Margarida é historiadora e pesquisa a história dos cheiros, é a pisciana mais ariana de que se tem conhecimento. Descende de italianos e adora uma massa, mas fala sem gesticular. Ama viajar e captar os aromas das trilhas, das culturas e das ideias. Está em busca do profundo perfume do Ser. Escreve neste espaço às quintas-feiras. E-mail: margaridalquimia@gmail.com

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