OBRA POÉTICA
REUNIDA
Hilda Hilst (1930-2004)
“ Da noite - VIII (1992)
... Costuro o infinito sobre o peito
E no entanto sou água fugidia e amarga
E sou crível e antiga como aquilo que
vês:
Pedras, frontões no Todo inamovível
Terrena, me adivinho montanha algumas
vezes
Recente, inumana, inexprimível
Costuro o infinito sobre o peito
Como aqueles que amam ...
*
Júbilo, Memória,
Noviciado da Paixão" (1974)
Lobos? São muitos.
Mas tu podes ainda
A palavra na língua
Aquietá-los.
Mortos? O mundo.
Mas podes acordá-lo
Sortilégio de vida
Na palavra escrita.
Lúcidos? São
poucos.
Mas se farão
milhares
Se à lucidez dos
poucos
Te juntares.
Raros? Teus
preclaros amigos.
E tu mesmo, raro.
Se nas coisas que
digo
Acreditares.
*
Roteiro
do silêncio (1959)
Sonetos
que não são I
Aflição
de ser eu e não ser outra.
Aflição
de não ser, amor, aquela
Que
muitas filhas te deu, casou donzela
E à
noite se prepara e se adivinha
Objeto
de amor, atenta e bela.
Aflição
de não ser a grande ilha
Que
te retém e não te desespera.
(A
noite como fera se avizinha)
Aflição
de ser água em meio à terra
E ter
a face conturbada e móvel.
E a
um só tempo múltipla e imóvel
Não
saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição
de te amar, se te comove.
E
sendo água, amor, querer ser terra.
“
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