Constelação Familiar
CONSTELAÇÕES FAMILIARES E A SAÚDE MENTAL
Nas últimas publicações, foi possível notar as conexões entre a saúde física e as constelações familiares, que se estendem também para a saúde mental. Como um profissional da área, treinado dentro do que há de mais moderno da compreensão cientifica sobre a etiologia dos transtornos mentais, sinto dificuldade de abarcar qualquer explicação que seja unívoca. Tudo indica que os transtornos mentais refletem múltiplas condições: biológicas, psicológicas e ambientais mas é preciso coragem para admitir que ainda se conhece pouco a respeito delas e que, além desses fatores inquestionáveis, devemos incluir fatores pouco considerados. Nesse sentido, deveríamos olhar para a questão dos transtornos mentais também como decorrentes de herança transgeracional, oriunda do sistema familiar e dos ancestrais do paciente.
Nesse terreno da contribuição das constelações familiares, já pude constatar muitos avanços positivos mas que, por razão de sigilo ético, surgem limitações de serem compartilhadas. Todavia, é bem aliviador poder tomar conhecimento de que consteladores de todas as partes do mundo, tem tido constatações semelhantes.
Quero trazer a experiência de outro constelador, relatando o caso de um jovem de cerca de 30 anos de idade, chamado Stephan, que tinha começado a participar do trabalho Constelação Familiar por estar tendo problemas no casamento.
Ele contou que tinha sido diagnosticado com uma forma leve da esquizofrenia. Isso era algo bem evidente para os outros frequentadores dos encontros de constelação familiar, que se sentiam desconfortáveis por terem a sensação de ele poder se tornar agressivo e hostil, embora nunca tivesse se mostrado assim. Esse tipo de reação das pessoas lhe causava problemas também em outros contextos. Na sua forma particular de vivenciar a esquizofrenia, ele sempre ouvia um grito dentro de sua cabeça e que ele sabia não ser dado pela própria voz. Também sentia que nada dava certo na vida, como se a mesmo tivesse sido amaldiçoada.
Sobre a história familiar, ele contou que era alemão com mãe também alemã mas judia cujos parentes tinham, na maioria, morrida nos campos de concentração nazistas. Já a família do pai dele era de alemães ativamente envolvidos na Segunda Guerra Mundial. Stephan se sentia muito dividido entre ser um alemão e ser um judeu e, por algum tempo, tentara negar a herança judaica.
Compartilhou uma história terrível sobre a sua tia-avó no campo de concentração que tinha se passado na véspera do aniversário de Hitler quando o comandante veio até o alojamento dela para anunciar-lhe que, como parte da festa de aniversário de Hitler, o filho dela seria cremado nos fornos sem ser antes abatido por gases mortíferos: em outras palavras, ele seria queimado vivo. O comandante, então, dava à ela a escolha entre matar o próprio filho ou enviá-lo para esse outro destino horrível. A tia então escolheu matar o próprio filho, a fim de poupá-lo do sofrimento.
Na constelação, foram escolhidos representantes para Stephan, o comandante do campo, a tia-avó de Stephan e o filho dela.
Imediatamente o representante da tia disse: "É o mais terrível sentimento que eu já senti, eu sinto um grito alto brotando dentro de mim, é arrebatadoramente forte, é terrível!!"
O constelador encorajou o representante da tia a dar o grito - um som horrível, daqueles de arrepiar a espinha. Imediatamente Stephan caiu em choro, exclamando: "Esse é o som na minha cabeça, o que eu ouvi muitas vezes." Stephan se sentia fortemente identificado tanto com o comandante do campo quanto com a sua tia-avó, não sabendo qual deles escolher.
Por vários meses, Stephan participou de inúmeras constelações e o seu estado mental começou a melhorar. Além disso, à medida que trabalhava a sua identificação com o comandante de campo, sua agressão começou a abrandar e os que antes tinham medo dele, começaram a sentir um apreço por ele. Desde então, Stephan já não ouviu mais gritos e começou a frequentar a sinagoga de vez em quando com outro amigo que também é oriundo de uma família mista.
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