quarta-feira, 23 de setembro de 2015



Relações tóxicas e ganhos secundários



Por que as pessoas experimentam relacionamentos tóxicos e destrutivos, e mesmo assim continuam a mantê-los?
As respostas a essa pergunta podem ser muitas. Sejam quais forem tem algo nas relações tóxicas que faz parte da estrutura de manutenção de quase todas elas: são os GANHOS SECUNDÁRIOS, isto é, aquilo que a pessoa não quer enfrentar em si mesmo e que esse relacionamento, de alguma forma, está suprindo. São as motivações inconscientes que dão a ilusória sensação de vantagens e de segurança em meio ao sofrimento. Parece um contrassenso, mas é assim que funciona a mente. Você sofre, mas a mente elabora um mecanismo de compensação, falso, com o qual você procrastina, adia, qualquer decisão sensata.
Vamos aos exemplos. Uma pessoa afastada de seu trabalho, por conta de um quadro psicológico, pode encontrar um ganho em se manter doente, porque assim ela não tem que voltar ao trabalho que ela detesta. A mãe que tem uma enxaqueca crônica e desmaios pode manter seu quadro, porque, talvez, seja a única forma de ter o carinho e atenção da família.
Da mesma forma acontece com relacionamentos tóxicos. Uma mulher não separa de um homem temperamental e agressivo, apesar do sofrimento que isso lhe causa, porque ela tem enorme estabilidade financeira com a continuidade do casamento ou tem medo de ter que construir sua autonomia. Um homem não larga a mulher que não lhe atende os desejos, porque ela representa o sonho moral dos familiares e enquanto permanece com ela, em sua concepção ilusória, é respeitado pelos parentes.
Aquelas coisas da vida que aos olhos de todos parecem ridículas, inconciliáveis e que causam danos a alguém, quando mantidas pela pessoa que alega não ter coragem para mudar aquilo, quase sempre, no fundo, são ganhos secundários, é uma sabotagem do inconsciente.
Em terapia, é muito importante descobrir, olhar e reconhecer esses “ganhos”. Percebe-se com muita frequência o seguinte: uma das razões mais comuns pelas quais uma pessoa não consegue se desapegar de outra, mesmo quando esse relacionamento é pesado e não agrega nada, é o medo da solidão. Algumas pessoas preferem a briga, o conflito, o abuso da parte da outra, a ter que enfrentar a vida sozinha. Um quadro de baixa autoestima em que a carência de se completar em outra pessoa é algo compulsivo e incontrolável.
Somente quando se tem consciência desse ganho ilusório é que se torna capaz de escolher entre manter esse tipo de convivência ou fazer algo para transformá-la, ou se for caso, encerrá-la em sua vida. Em uma relação pesada e destrutiva o mais importante é avaliar o que está ao alcance de quem deseja recupera-la. Muitas vezes, a única coisa ao alcance é cuidar de si mesmo e nada mais. Em outras, será possível buscar ajuda e resgatar o relacionamento em direção à parceria e amor.
O que é muito insensato de se pensar em qualquer relação, seja tóxica ou não, é essa ideia infeliz de compromisso com o outro. Temos compromisso de reconciliação com a nossa consciência, conosco próprio, com a construção de nossa própria autonomia e felicidade. A única pessoa que viemos aqui para resgatar somos nós próprios, e mal estamos dando conta disso. Essa ideia de compromisso com o outro é uma deturpação proveniente de conceitos religiosos mal entendidos. Com o outro temos relações de cooperação, apoio, gratidão e ou outras leis universais que unem os seres pelos sagrados laços do amor para aprendizado mútuo e crescimento emocional e espiritual.
Ficar ao lado de alguém por conta dessa insensatez em acreditar que você veio aqui para sofrer ou não merecer algo melhor, é um traço de profunda doença emocional que requer tratamento e acompanhamento como qualquer doença física grave.
Seja feliz, avance em sua vida, identifique e abra mãos dos ganhos secundários em favor de uma vida real, leve e amorosa. Vá em busca do amor, da alegria e da maturidade, únicas estradas que valem a pena trilhar nos relacionamentos afetivos a dois.






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