terça-feira, 6 de outubro de 2015








Vou contar uma historinha para vocês entenderem como funciona a vida real da maternidade solo (na esmagadora maioria desses casos):
Papai e Mamãe fizeram um Bebê.
Papai e Mamãe ficaram desempregados.
Papai e Mamãe se separam porque não se gostam mais.
Mamãe fica com o Bebê, que ainda é muito pequenino e depende dos seus cuidados.
Papai vai embora e dá notícias quando tem tempo.
Mamãe pergunta quando o Papai vem visitar e ele diz que não quer voltar porque está muito confuso. Mamãe explica que não quer que ele volte, apenas precisa que ele ajude com o Bebê. Precisam ver como vão fazer com as contas da casa que ficaram pra ela resolver, com a Creche/Babá para o Bebê, e como vão levar aquela situação - como ele vai poder ajudar.
Papai diz que não quer voltar pra ela, que ele está muito confuso.
Papai pede para Mamãe parar de incomodar.
Mamãe se cansa de tentar explicar que não quer ele de volta, apenas quer ajuda com o Bebê que eles fizeram juntos.
Mamãe está sem dinheiro mas acha que o Papai também.
Papai vai viajar.
Papai sai com os amigos.
Papai não manda dinheiro.
As contas começam a vencer e o nome da Mamãe começa a sujar.
Mamãe começa a procurar um emprego.
Mamãe deixa o Bebê com uma Babá porque ele ainda não pode entrar na Creche.
As Conhecidas de Mamãe dizem que ela é louca por deixar o Bebê com alguém que ela mal conhece - mas o Familiares da Mamãe também trabalham.
As Conhecidas não querem cuidar do Bebê, mas dizem que ela é louca.
A Mamãe começa a frequentar entrevistas:
"Ah, você tem filho?"
"Ah, você é Mãe Solteira?"
"Ah, ele só tem X meses/anos"
"Com quem ele fica?"
"Tem outra pessoa para ir buscá-lo em uma emergência"
"Que horas ele entra/sai da Creche/Babá?"
"Como você vai fazer para levá-lo/buscá-lo?"
"Quem vai ficar com ele nos finais de semana/feriados?"
"Ah, você ainda está amamentando?"
A Mamãe achava que em 2015 não existia mais preconceito. Mamãe começa a perceber que nenhum preconceito existe - até você ser alvo dele.
Finalmente uma chefe que também é Mamãe Solteira, se solidariza e contrata a Mamãe.
O Bebê já está com idade pra ir para Creche mas não tem vaga na pública.
Mamãe consegue dinheiro emprestado para pagar uma Creche particular que deu um descontinho para cuidar do Bebê.
Mamãe começa a trabalhar 8h por dia.
Nos finais de semana o Bebê fica com os Avós para a Mamãe poder trabalhar.
As conhecidas da Mamãe, dizem que ela é uma péssima mãe pois está terceirizando a educação do Bebê.
Quando chega em casa, a Mamãe cuida do Bebê, da casa, das roupas, das contas, da comida.
Mamãe monta a lancheira do Bebê, vai no supermercado, compra remédio - porque agora o Bebê começou a ficar doente por causa do primeiro ano da Creche - ele ainda está construindo sua imunidade.
O Papai aparece de vez em quando, diz que não tem dinheiro, que ainda não arrumou emprego porque está muito difícil pra ele. Mas diz que ama muito o Bebê e que está sofrendo muito com essa situação.
Mamãe acorda a noite inteira. Nunca dorme e quando dorme acorda a cada 40 minutos.
São os dentinhos do Bebê.
Mamãe mesmo assim trabalha 8h por dia e "terceiriza" a educação do Bebê.
Mesmo assim tem que pegar dinheiro emprestado. Mamãe chega a pensar em se prostituir, para dar conta de tudo.
Mamãe não pode se prostituir porque se não ela perde a guarda do Bebê.
A Mamãe começa a faltar do trabalho primeiro porque o Bebê pegou conjuntivite e depois porque pegou todas as viroses disponíveis no mercado.
Os Familiares da Mamãe trabalham então ela falta do trabalho para cuidar do Bebê.
Mamãe sempre entrega todos os atestados, mas mesmo assim a Mamãe é mandada embora do trabalho.
Mamãe liga pra pedir dinheiro pro Papai e ele diz que não tem e que não adianta ela insistir que ele não quer voltar.
Mamãe diz que não quer que ele volte e explica que nesse momento ele precisa muito arrumar um emprego porque ela está na função do Bebê e por isso tem sido difícil manter o emprego.
Papai diz que não quer voltar.
Mamãe desiste - é muito cansativo ter que ficar explicando, pedindo, implorando pra que ele cumpra as obrigações dele com o Bebê.
Mamãe já tem as dela para cumprir e as dele - já que ele não as cumpre.
Mas Papai sempre visita.
Pega o Bebê limpinho, saudável, alimentado.
Pega a bolsa do Bebê com as fraldinhas dele, a mamadeira com o leitinho, roupinhas para troca e alguns brinquedinhos.
Leva a lancheirinha cheia e devolve vazia. A roupa limpa e devolve suja.
O Papai posta fotinhos da visita no Facebook e os conhecidos e familiares dele comentam "Que Paizão!!!".
O Papai não sabe nem a série que o Bebê está.
As Conhecidas da Mamãe acham que ela é vagabunda, que não trabalha porque ela se apoia na pensão que o Papai manda.
A família do Papai também acha que ela compra bolsas Chanel com aqueles 30% de salário mínimo que o Papai manda todo mês.
A pensão que o Papai manda é pouquinha porque a Justiça entende que ele está desempregado e não tem dinheiro para pagar os custos do Bebê.
A Mamãe também não pode arcar com os custos do Bebê, mas também não pode deixar um Bebê passar necessidade. Além do que, isso é crime.
Os Conhecidos da Mamãe dizem que ela devia ter pensado nisso antes de abrir as pernas.
A Mamãe come miojo, arroz puro, batata - não faz nunca mistura - pra sobrar mais dinheiro pro leitinho do Bebê.
O Papai assiste a TV e continua mandando currículos pela internet - está muito difícil conseguir um emprego.
Os Familiares do Papai dizem no Facebook que estão todos sofrendo muito porque a Mamãe não deixa eles verem o Bebê.
Eles nunca falaram com a Mamãe.
O Papai também diz que não vê mais o Bebê porque a Mamãe não deixa, mas de vez em quando falta das visitas e a Mamãe fica brava porque ele não avisou - ela e o Bebê ficaram esperando, conforme manda a Justiça.
Quando ela liga reclamando, o Papai diz pra namorada nova dele, que a Mamãe tem muito ciúmes e que não aceita o fato dele ter seguido com a vida dele e ela não.
A Mamãe sente pena das futuras namoradas dele.
A Mamãe reclama do Papai pra Conhecidos porque está sobrecarregada, mas eles dizem que a culpa é dela, porque ela não escolheu alguém melhor para engravidar.
Mamãe tomava anticoncepcional quando engravidou. Os Conhecidos dizem que ela tomava errado porque anticoncepcionais nunca falham.
A Família do Papai acha que ela engravidou de propósito.
Mamãe não tem muitos amigos porque a maioria das mamães que conhece são casadas e preferem sair com outras mamães casadas.
Também não costuma sair porque não tem com quem deixar o Bebê. Quando tem, os Conhecidos dizem que ela é uma vadia que só pensa em correr atrás de homem ao invés de cuidar do Bebê.
Os Homens acham que a Mamãe está em busca de um novo Papai para o Bebê e sempre se afastam.
A Mamãe acha que um único Papai já é trabalho o suficiente na vida dela.
Um Amigo da Mamãe disse que prefere Mães Solteiras porque elas são alvos fáceis, estão sempre carentes.
Mamãe descobre que o Papai está ganhando dinheiro e pede para ele aumentar a Pensão.
Ele diz que não quer voltar.
Os Conhecidos chamam ela de aproveitadora.
O Papai se acha um grande pai porque assina a mini pensão e visita sempre que pode. Reclama quando a Mamãe pede alguma coisa - ele acha que já está fazendo demais.
Mal sabe o Papai que ele não cumpre com as suas obrigações.
Mas a Mamãe desencana porque já está calejada.
Decide que vai mesmo assumir tudo sozinha daqui pra frente - trabalha, cuida do Bebê, da casa e não sai.
Depois de apanhar muito, de chorar por horas intermináveis sozinha no banheiro, Mamãe pegou o jeito da maternidade solo.
Papai diz que ela finalmente parou de correr atrás dele - até porque, ele não quer voltar.
*Essa é uma história fictícia, baseada nos inúmeros relatos de Mães Solteiras portanto, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.
[Texto via Mãe no Divã]

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