terça-feira, 28 de junho de 2016

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“Porque a boca não pode calar”


No céu da minha boca
estrelas dizem que a estória ainda não acabou
balões coloridos cheios de mim
ultrapassam as nuvens e só não tocam  as estrelas
porque ainda é dia e não posso vê-las!
São pequenos pontos “G”, em local indevido
onde dança minha língua solitária!

Os mesmos lábios que oram ... reclamam
beijam, bendizem, bocejam, blasfemam
... vociferam!

Tenho um oceano doce e cálido,
que calmamente, transborda em transparência
quando falo de palavras bonitas
... são meus peixinhos amarelos
que chegam até a beira e mordiscam os meus pés.
Esse mesmo oceano pode ser tomado pela fúria
  virar substância ácida e corrosiva
e cuspir revoltado os destroços mais cortantes
... que dilaceram primeiro aos meus lábios!
Mas quando o mar é proibido de chegar à areia
ele se aproveita da escuridão da noite
e se retrai em silêncio - se esvaindo por um grande ralo
sumindo por completo numa maré baixa ... exagerada!
Deixa à mostra
as minhas menos de  ‘32’  formações de cálcio!

Chega às profundezas da terra
e lá se transforma ou se re_codifica!
E eu confio na minha memória!

Nas primeiras horas da manhã do novo dia
saio a caminhar pela praia
sei que vou encontrá-los  ...  regurgitados um a um
em símbolos representativos de linguagem
de início, um tanto desconexos
mas depois de ordenados ...  vão fazer todo o sentido!

O mar que recuou, reconquista agora
 um 'continente' de areia em forma de papel
... para escrever o que desejar!

E então...  a boca aprende a falar sem nada dizer
... porque a  boca não deve calar
sob pena do corpo morrer!


Em 28/06/16


Um comentário:

  1. "Quando a boca cala, o corpo fala." Arranjemos então um jeito de fazer a boca falar!

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