terça-feira, 3 de março de 2020

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CEGUEIRA E FOME
03/03/18





Cada grito silenciado, é uma dor que engoliu a própria voz.

Uma entidade que não possui membros para gesticular e de cuja face, não se lembra mais, passando a sofrer de uma letargia.  Só tem 'o sentir' - isso não consegue evitar.

Alguém com consciência, abandonado numa ilha, com outros tantos, como cabras cegas e famintas, pastando nesse solo onde nada cresce.  Embora sejam muitas, não se dão conta da presença, umas das outras, porque estão cegas, porque trazem seus focinhos amarrados para não balirem, para morrerem.  Não há barco, não há sons ... permanecem com fome, mas não morrem.

Ficarão guardados na areia dos espelhos - dentro deles - sem ousarem refletir à luz, um rosto inexpressivo ou mesmo de horror, porque julgam que não os têm, porque se esqueceram de como são.



arte | amanda cass

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