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BUCÓLICA
18/03/17
Em primeiro plano, três flores brancas. O resto da paisagem vai ficando desfocado devido a miopia, ou ao cansaço das retinas. A medida que estão mais distante de meus olhos, as cores perdem a intensidade e as formas se desfazem em contornos fluidos.
Mas não são só os meus olhos que enxergam - é a alma que não sofre de nenhum problema de visão – que captura, mensura e sente o ambiente, trazendo de volta a mim todas as impressões - para que eu possa apoderar-me da sensação de fazer parte de um quadro, que ninguém poderia pintar.
Meus pés pisam a relva ainda fresca da madrugada. E enquanto lentamente eu caminho, absorvem a beleza e me aproximam das imagens, as quais não visualizava completamente.
Vejo outras flores, de outras cores mais vivas, vejo os insetos e pássaros rodeando suas corolas. Têm a ilusão de que são eles que, cortejando-as atingem, finalmente, seus corações e tomam do seu néctar, quando a realidade é bem outra – as flores e suas cores é que exercem uma sedução irresistível sobre os insetos e pássaros - são eles que se tornam cativos do seu encantamento.
A moldura é feita de azul, com manchas aqui e ali, em estranhas combinações, o verde também se mescla espalhado entre o chão e as encostas mais distantes. Quanto mais próxima delas, as cores se acendem e os formatos se definem sob meus olhos. E bem debaixo do meu nariz, estão a subir os perfumes, doces e outros não tão agradáveis ao meu olfato, me escapam aqueles que não posso sentir.
Eu poderia aqui me deitar e dormir por horas, e morar nesse local que me acolhe, como se fosse minha casa - porque um dia foi a minha casa – eu é que a deixei, e me afastei dela, a natureza, motivo pelo qual me sinto tão bem quando a ela retorno - com um enorme prazer de sentir que ainda sou parte dela - ela sabe disso e me aceita de volta!
arte | agnes cecile
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