quarta-feira, 18 de dezembro de 2019
856 | MUDEI | 22/12/18
Não me procurem no meu antigo endereço. Pois já não moro mais lá.
Não adianta bater à porta, ela não se abrirá, tampouco me enviem correspondência, eu não responderei às mensagens.
Já não estou lá, a casa ficou grande e ao mesmo tempo, eu não cabia mais dentro dela. Fazia um frio tão insuportável no seu interior, que me fazia arder por dentro e querer novos ares.
Já não era mais eu, não era mais a minha casa ou as memórias que queria manter.
Não me reconhecia mais, não me sentia em casa, não me agradava lembrar do que tinha se passado.
Deixei as fotos dispostas sobre os móveis, algumas gastas, por serem de má qualidade, outras mais nítidas, mas todas ficaram pra trás.
Levei apenas o que coube na mala da minha lembrança, e de todas elas - as lembranças, conservei comigo apenas as verdadeiras, não as imaginadas.
Precisei de uma boa 'ação de despejo', porque de outro jeito, acho que não sairia. Continuaria a retirar o pó dos móveis; a buscar nas fotos, os melhores momentos; a me espremer pra caber dentro; a me contentar, em respirar o ar insalubre e viciado, com meio pulmão.
Qualquer relógio que marque o tempo, só anda pra frente, até o cronômetro, que finge que o tempo diminui, não deixa de contar as horas que se passam.
Até as cobras mudam de pele, as palmeiras deixam anéis em seus troncos, por cada ciclo que vivem.
Se acaso nos cruzarmos na rua, talvez não me reconheça de pronto, não saiba dizer o que mudou em mim, qual detalhe na aparência ou no gesto, mas saberá que mudei e mudei-me.
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