sexta-feira, 6 de dezembro de 2019



841 | A VERDADE VELADA | 06/12/18

Nunca se fie na aparência jovial de ninguém, nunca escarneça de dor alguma, alheia ou sua.  Porque as dores sabem ficar quietinhas, mas não desaparecem do nada, elas não têm prazo de validade, quanto mais velhas, mais fortes.  Elas querem ser vistas, sentidas e entendidas, nos cutucam de vez em quando.

Cara e coração, conforme o dito popular, são coisas distintas: a primeira pode ser falsa, mas a segunda se recusa a usar máscara.  À porção aparente até que detemos um certo controle, mas 'o sentir' é impossível de ser controlado.


Todas as dores fazem morada no coração.  Umas nascem lá dentro, outras chegam até ele, pelos caminhos nervosos do nosso corpo, mas todas, é lá que se estabelecem.


Uma dor pode ser explicada ... podemos tentar, através das palavras, das melodias, de pinceladas numa tela crua, de formas dadas, do barro à rocha mais dura; mas quem as lê, escuta, vê e apalpa, não são os olhos, ouvidos ou mãos; pela mesma razão, de que não são a boca e as mãos, de quem tenta explica-la, que as produz.


A mensagem é sempre de coração para coração: daquele que se expressa, para aquele que recebe; e é preciso que haja ressonância no órgão daquele que lê, vê e escuta - do contrário a mensagem se perderá, sem ser sentida.


Palavras faladas, escritas, cantadas; gestos; expressões em telas e rostos vivos; texturas e contornos saídos de mãos talentosas; são ensaios, tentativas de se desvelar, despir, limpar, exorcizar o que nos provoca intensa comoção, verdadeiros balbucios ou gritos da alma, desesperada por ser  acolhida, tocada e compreendida.  Uma investida para arrancar os véus, que tentam asfixiar a verdade.


Apreciar uma arte é um dom, tanto quanto produzi-la, porque  vislumbramos e assimilamos as coisas com o coração e não com os órgãos sensoriais, isso vale também para a vida.  Afinal toda arte é um desabafo, de um coração ao outro.



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