quarta-feira, 23 de maio de 2018


 O QUE VIRÁ   __ 696


arte: catrin welz-stein


Algumas vezes acordo preocupada.  Passo um, dois dias, sem escrever nada, logo penso que fiquei insensível aos fatos, às coisas,  numa atitude autômata.

Nesse mundo líquido, em que considerar-se dentro de um certo equilíbrio, é anormalidade,  uma aberração - eu me sinto a própria!  A tendência é de que, alguém apareça e lhe diga o quanto inadequado você é, o quanto esteve equivocado até agora.  

Pois é, nesses dias eu me sinto sem 'sentir', como se todos os sentidos tivessem sido drenados de mim, ido ralo abaixo.  Não vejo mais poesia, ou algo que me encante, que deva ser esmiuçado, em palavras que podem levar à reflexão.

Voltando a falar do mundo líquido, a impressão que me dá, é de que estou imersa nessa secreção meio muco, meio gelatinosa, de que tanto falam. Onde tudo é muito pouco profundo, onde tanto faz, tudo é aceito, permitido, até a apatia, porque tudo é mutável.  O que é bom hoje, amanhã pode não ser mais, podendo alterar sua importância, até mesmo nas próximas horas do dia, não esperando pelo amanhã.

Escrever para mim, é manter-me acima da linha da superfície, na tábua de salvação da lucidez, com os pulmões cheios apenas de ar.  

Através das palavras, exerço a minha capacidade de analisar o que se passa, sem entrar na mesmice e na indiferença, coisas comuns, por sabermos  que em pouco tempo, nada será igual, e sabe-se lá, no que irá se transformar.  

Cedo ou tarde, a mudança virá, só espero que eu possa ser capaz de acompanhá-la, acima da linha da superfície, no seu lado externo.

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