AS PEDRAS E A PEDREIRA-MÃE __ 678
Eu era a própria rua, com suas pedras irregulares e frias, arrancadas de uma pedreira-mãe distante, e jogadas naquele local estranho. Dispostas, umas, ao lado das outras, de uma forma que nada crescesse entre suas frestas. Refletindo a luz fria da lua, sem entusiasmo. Eu não pisava aquelas pedras, com meus pés.
Naquela noite, eu era café frio, requentado muitas vezes; pão seco e endurecido; cama úmida e solitária. A personificação da fome e do frio, sem senti-los. Tinha uma dor, que não sabia me falar onde doía, se em cima, embaixo, do lado esquerdo, ou direito - ela só latejava.
Sumir, seria bom ... mas impossível. Quem some de algum lugar, tem de ir para outro, e a dor iria junto comigo, onde quer que fosse.
A vontade era, de me jogar naquele chão irregular e frio, ficar grudado, aderido a ele, feito película opaca, num efeito camaleão - assumindo sua forma, cor, textura, aspecto, frieza. Eu ficaria, o tempo que fosse preciso, naquele chão irregular, em simbiose, até que a dor - esquecida de mim, fosse embora - ou até que ela aprendesse a falar e eu, a escutá-la.
Não me importaria com os sons dos saltos dos sapatos batendo nas pedras, dos passos que sobem ou descem a rua. Tanto faz, subir ou descer - seriam apenas barulhos.
Talvez nem os ouvisse, porque estaria tão inerte quanto a pedra. Como se tivesse retornado à pedreira-mãe - refletindo a luz fria da lua, sem nenhum entusiasmo.
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