quinta-feira, 31 de maio de 2018

DOIS GATUNOS   __ 706



O vento e o tempo ... e não é nome de filme.

Têm dias em que o vento é o protagonista, pelos sons que emite (falas) e pela sua presença em cena (performance).

Sinto-o perpassar pelo meu corpo, como se este  fora uma peneira e eu nada vestisse. Tenho que fixar meus pés no chão, com toda a força, para que não me leve junto.

Quando o vento se esgueira pelos obstáculos, tentando passar pelos cantos, faz um redemoinho incômodo e desconcertante, pelo desconforto que causa.

Ao correr pelos espaços abertos, corredores estreitos - para ele e sua força descomunal - é obrigado a se comprimir e espremer, fazendo uivos e gemidos perturbadores, que se parecem com vozes humanas em desespero e lamento.

Acho que nesses dias envelheço, além da conta de um dia.  O vento seca a vida que existe em mim, mais depressa do que o tempo.  Me faz secar mais rápido, os lábios, pele, os olhos, enchendo-os de poeira. Tudo isso, sem ter nada de poético.

Irrita-me, que ele embarace meus cabelos e levante as minhas saias, leve para longe uma folha de papel que esteve na minha mão.

Prefiro os dias sem vento, apenas com uma leve brisa ... e quem não os prefere? 

As calmarias são boas e bonitas tanto em terra, quanto no mar.

O vento em sua fúria, pode fazer estragos.  Tenho medo dos meus ventos internos, da raiva com que irrompem das profundezas da minha alma.  Podem me levar junto com eles, a lugares que não sei se gostaria de ir.

Vento e tempo, são dois furtadores de vida, nos roubam o frescor e a juventude, causam a nós, um efeito semelhante a um latrocínio, a medida em que nos tomam algo e nos matam aos poucos.

Sem dúvida, há muitos outros ladrões, mas vamos deixar assim - os dois.  

O vento me faz literalmente sair do lugar onde estão os meus pés.  

O tempo faz com que eu não saia do lugar, através dos meus pés, porque é como uma esteira rolante onde estou parada, que se move na direção do futuro, a um outro lugar, sem que eu perceba que estou em movimento, involuntário mas efetivo.

Talvez o vento acelere ou potencialize o tempo.

Não sei qual é mais cruel!  Um é mais sutil, o outro mais contundente!

Nenhum comentário:

Postar um comentário