quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

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LUZ, PRESENÇA E LIBERDADE
19/02/19




Numa de minhas andanças por aí, olhando para cima, eu vi um prédio de apartamentos, construído já há algum tempo, quando espaço e conforto ainda eram valorizados - confesso que chamou minha atenção.

 

Eu estava de frente para face lateral dele, não via sua fachada, via suas áreas de serviço: retangulares e amplas, embora fechadas por um tipo de elemento vazado, quadriculado da cor cinza.  

 

Como eterna reformadora, imaginei para ele, um outro tipo de fechamento, um pouco menos tosco e mais colorido. 

 

Botei reparo e vi, que de um dos espaços, saia um galho verdinho, se esgueirando pelo material grosseiro, escapando em direção à luz, como se na ponta dele houvesse um olho, um nariz, uma orelha ou câmera.

 

 

Pensei então: que aqueles elementos cinzentos, vazados e de mau gosto - que não combinavam nem um pouco, com a elegância do bairro - serviam apenas para manter afastados, os seres humanos indesejáveis e para prenderem, outros seres humanos dentro deles.

 

Logo mais à frente, também vi, um pequeno pássaro pousado, entre um dos espaços, do fechamento de um outro apartamento: ele colocava sua cabeça para dentro e para fora, piando e indeciso se valia a pena entrar ou não, acabei por não saber o que ele decidiu fazer, porque segui andando, em direção ao meu destino.

 

Uma coisa leva à outra, então de imediato me veio à mente, a ideia de 'preto e branco’ ou 'branco e preto'.  Entre as duas possibilidades, eu encaixei o cinza que havia chamado minha atenção.

 

Sem dúvida, o cinza é o recheio, que existe entre uma cor e outra, um pouco mais de uma, menos da outra, em muitas variações, muito mais do que cinquenta, mas ele estará sempre ali, no meio, entre as duas.

 

Já estive por algum tempo, vendo imagens em preto e branco, depois, acabei por imaginar cores, para as mesmas imagens, ansiando colorir com os meus olhos, aquilo que via, adivinhando quais seriam as nuances mais adequadas.

 

Ainda me deixando levar pelo pensamento: só dentro do preto, é que conseguimos visualizar um espaço branco ... se o branco estiver nas beiradas, é provável que não o vejamos, salvo se estiverem os dois sobre uma folha de papel, obviamente de outra cor.  Ainda assim é possível que passe despercebido.

 

Associei branco à ausência, ao preto - a presença.  Depois pensei, não seria exatamente o contrário?  Luz e cor - igual a presença; enquanto que ausência - é escuridão contendo o nada.  Se o branco é a união de todas as cores, então, tudo é presença.  As cores são dependentes da existência da luz, e se assim não o fosse, entre os planetas que vemos, haveria um imenso e inútil vazio, pois nossos olhos precisam da luz, como dela necessitam, as cores, para serem apreciadas.

 

Deixa pra lá!  O que pude perceber é que a vegetação e os pássaros não se deixam encarcerar, apenas os homens.



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