Numa de
minhas andanças por aí, olhando para cima, eu vi um prédio de
apartamentos, construído já há algum tempo, quando espaço e conforto ainda eram
valorizados - confesso que chamou minha atenção.
Eu estava
de frente para face lateral dele, não via sua fachada, via suas áreas de
serviço: retangulares e amplas, embora fechadas por um tipo de elemento vazado,
quadriculado da cor cinza.
Como
eterna reformadora, imaginei para ele, um outro tipo de fechamento, um pouco
menos tosco e mais colorido.
Botei
reparo e vi, que de um dos espaços, saia um galho verdinho, se esgueirando pelo
material grosseiro, escapando em direção à luz, como se na ponta dele houvesse
um olho, um nariz, uma orelha ou câmera.
Pensei
então: que aqueles elementos cinzentos, vazados e de mau gosto - que não
combinavam nem um pouco, com a elegância do bairro - serviam apenas para manter
afastados, os seres humanos indesejáveis e para prenderem, outros seres humanos
dentro deles.
Logo
mais à frente, também vi, um pequeno pássaro pousado, entre um dos espaços, do
fechamento de um outro apartamento: ele colocava sua cabeça para dentro e para
fora, piando e indeciso se valia a pena entrar ou não, acabei por não saber o
que ele decidiu fazer, porque segui andando, em direção ao meu destino.
Uma
coisa leva à outra, então de imediato me veio à mente, a ideia de 'preto e
branco’ ou 'branco e preto'. Entre as duas possibilidades, eu encaixei o
cinza que havia chamado minha atenção.
Sem
dúvida, o cinza é o recheio, que existe entre uma cor e outra, um pouco mais de
uma, menos da outra, em muitas variações, muito mais do que cinquenta, mas ele
estará sempre ali, no meio, entre as duas.
Já
estive por algum tempo, vendo imagens em preto e branco, depois, acabei por
imaginar cores, para as mesmas imagens, ansiando colorir com os meus olhos,
aquilo que via, adivinhando quais seriam as nuances mais adequadas.
Ainda
me deixando levar pelo pensamento: só dentro do preto, é que conseguimos
visualizar um espaço branco ... se o branco estiver nas beiradas, é provável
que não o vejamos, salvo se estiverem os dois sobre uma folha de papel,
obviamente de outra cor. Ainda assim é possível que passe
despercebido.
Associei
branco à ausência, ao preto - a presença. Depois pensei, não seria
exatamente o contrário? Luz e cor - igual a presença; enquanto que ausência
- é escuridão contendo o nada. Se o
branco é a união de todas as cores, então, tudo é presença. As cores são dependentes da existência da luz,
e se assim não o fosse, entre os planetas que vemos, haveria um imenso e inútil
vazio, pois nossos olhos precisam da luz, como dela necessitam, as cores, para
serem apreciadas.
Deixa
pra lá! O que pude perceber é que a vegetação e os pássaros não se deixam
encarcerar, apenas os homens.
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