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DANÇA DO FOGO
22/02/17
Rodopio em torno da fogueira, no meio da noite apagada e sem luzes. As chamas tremulantes tentam flutuar em direção aos céus para iluminá-lo. Ouço os estalidos da madeira dilatada - ela grita antes de queimar - debaixo das línguas de fogo. Tudo se funde numa coisa só - o chão, a madeira e as chamas crepitam em direção ao breu.
A música é mágica e não me permite aquietar, me incita a girar sobre meus pés descalços, honrando a todas as mulheres que vieram antes de mim e as que virão depois – a elas e as suas saias longas, seus ventres e seus fogos internos. Numa espécie de transe, eu me deixo levar pelo ritmo e pelo brilho quente tão próximo de mim. Entreguei meu corpo aos sons. Percebo como é bom ... fazer parte da noite fria, do encantamento do fogo, do choro da madeira. A dança primitiva dos nossos ancestrais - e o que ela me faz sentir e ver - virarem cinzas, aquilo que não quero mais.
Tenho meus cabelos soltos e esvoaçantes sobre meus ombros, que se tornaram suados pelos rodopios, pelo calor e pelo ardor de meu ventre. Sinto o amor, num movimento de subir pelas minhas pernas, a passar por dentro de mim - ele se detém um pouco mais de tempo em minhas entranhas ... e depois, e só depois, me escapa pelos braços ... para então retornar às minhas mãos e percorrer novamente o meu corpo, até entregar-se ao chão. Sim ... nessas subidas e descidas, acaba deixando um tanto dele comigo.
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