quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

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SOBRE OS ABRAÇOS
13/02/19




Hoje eu me peguei pensando na natureza da espécie humana, em especial - na do espécime do gênero feminino.

Eu permanecia enlatada, quase que à vácuo, num coletivo, hermeticamente fechado.  Chovia muito e as pessoas conservavam as janelas fechadas.  Devido à pressa do motorista  (sem desconsiderar a nossa), o ônibus fazia seu percurso, numa velocidade maior do que a habitual, pra tirar o atraso.

Como este, se demorou a passar no ponto, estava mais do que lotado: com não sei quantos passageiros, mais suas bolsas, mochilas, guarda-chuvas, sacolas e outros apetrechos.   A única parte do meu corpo, que eu podia mexer, eram os meus pés (e era preciso mexe-los), pra manter meu equilíbrio nas curvas e nos desvios malucos, feitos pelo condutor.  

Eu me sentia surfando sobre as ondas - só que secas - porque o mar estava lá fora.  Minto, além dos pés, eu mexia também, meus olhos, e só isso!

Me lembrei daqueles episódios, que todas as mulheres já tiveram, quando estão em banheiros públicos, tentando fazer seu xixizinho básico, dentro de um reservado com porta sem tranca, fazendo exercício de agachamento, contraindo os músculos das pernas, pra não encostar no assento, não cair e a o mesmo tempo tentando relaxar a pelve e esvaziar a bexiga - dois movimentos completamente opostos.  Quando não, também, segurando bolsa, sacola e sabe-se lá mais o quê!

Pois bem, todo esse rodeio pra explicar o contexto em que me achava imersa.  

Vi do lado de fora, através do vidro embaçado, a mulher, que carregava uma criança em sua anca esquerda, em seu braço oposto, dependurada no ombro, levava uma  sacola infantil  e com a mão direita, segurava um guarda-chuva, pendendo pro lado esquerdo.  Era muita coisa, pra uma mulher segurar sozinha, ao mesmo tempo - mas ela fazia sem demonstrar nenhum esforço em seu rosto.  Parecia até, que fazia com certo prazer.

Pensava em como somos capazes de abraçar tantas coisas, tendo apenas dois braços, o que vale também para o espécime do gênero masculino, mas convenhamos, que as mulheres são capazes de abraçarem muito mais do que os homens.  Não falo do abraçar do verbo abraçar, de envolver com os braços, a isto inclusive - mas eu me refiro, a 'abraçar' as causas que julgamos nobres, 'abraçar' aos que dependem de nós, 'abraçar' às pessoas que evocam e invocam em nós, o nosso sentimento maternal.

Aprendemos logo cedo, a tirar 'leite de pedra', nos viramos com muito menos do que 'trinta', somos eximias bailarinas, fazemos mágicas e ainda operamos verdadeiros milagres.

A Rita bem disse, numa de suas músicas: "mulher é um bicho esquisito, todo mês sangra" ... mas mesmo quando ela pára de sangrar, ainda assim, continua sendo esquisita - e o será pelo resto da vida.  Ela será capaz de fazer coisas, das quais o diabo duvida e os homens nunca entenderão o motivo, dentro de uma lógica racional e quadradinha,  típica do espécime do gênero masculino.


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