1127 | CASTELO DE VIDRO | 02/02/20
Existem cegos com uma visão razoável. Surdos que escutam, mas incapazes de ouvir um lamento sequer. Mudos que articulam palavra, com algum sentido, embora carreguem um discurso frio e vazio, que nada acrescenta. Cegueira, surdez, mudez podem não ter relação com a deficiência de órgãos; como a pobreza, pode não ser aquela do bolso.
Vivem na escuridão, porque não vêem o óbvio. Se servem da palavra, como dardo que fere, em vez de usá-la como ponte, pra que o entendimento e a troca trafeguem por ela. Não ouvem nem o básico, vivem no silêncio do sentimento alheio, porque precisam e vão resistir a qualquer mudança.
Seguem rodeados de gente ... e sós. Controlando a tudo e a todos, de dentro de um castelo de vidro, imersos na sua verdade fechada, às imagens, aos sons e aos exemplos. Vivem num mundo à parte. Podemos enxergar suas intenções e movimentos, mas eles não se dão conta delas. Podemos ver que são tão frágeis quanto o vidro, que julgam, que os protege.
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