sábado, 29 de fevereiro de 2020

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UM OLHAR SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO
UMA SENTENÇA DE MORTE
28/02/20




A maneira mais eficaz de assiná-la, quero dizer - a sua própria, é conservar expectativas, a respeito do comportamento do outro, em resposta à sua dedicação e esforço.

Dar de si, pelo amor ou pela intenção de fazer o melhor possível, em prol da resolução do problema do outro, quando ele não quer ajuda, ou quando ele nem supõe que precise de alguma, quando ainda, a melhor ajuda, é deixá-lo com suas escolhas.

É morte da nossa vitalidade, das nossas 'boas intenções', que acabam por se tornar, as piores e com os mais desastrosos resultados, muitas vezes.  Isso acontece porque, invariavelmente, ignoramos os limites, invadimos a individualidade alheia e ainda nos esquecemos, de quem nós, realmente somos.

Na nossa cabeça existe uma simbiose fictícia de que o melhor para o outro, coincide com o melhor para nós mesmos.  Não é.  Da vida do outro nada sabemos, das suas prioridades, necessidades e limitações.

É morte da nossa identidade, da nossa sanidade e paz.  Ao desqualificarmos o outro, para gerenciar a sua vida, desconfiguramos toda a nossa capacidade de nos mantermos íntegros.  A tentativa de segurar as rédeas de uma situação, que muitas vezes nos envolve, faz com que soltemos as rédeas da nossa carroça, que desembestada, corre ladeira abaixo, rumo ao despenhadeiro.

Um cansaço, um desânimo, se apodera de nós, porque gastamos combustível nosso, para iluminar muitas vezes,  a noite de quem quer continuar no escuro, ou de quem nem sequer se deu conta da necessidade de luz.




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CARMIM
29/02/20




Deitei chão, larguei de mão
doeu ... a dúvida roeu
mas cortei os tentáculos, contei os fascículos
e vi, uma obra completa e obsoleta.
Segui adiante, na esperança agonizante
de ser o que esperei e o resto eu não sei!
Será o que for, do que eu quiser dispor
tenho na mão a passagem, de uma só viagem!
Não enxergo o caminho, aprecio quietinho
esse é meu auto de fé, e digo: nunca foi de má-fé!
A fé na certeza, de que um dia a justeza
se mostre pra mim, com uma boca carmim!


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

393 POR FAVOR, PAREM ESSE BARULHO! 01/03/17

393
POR FAVOR, PAREM ESSE BARULHO!
01/03/17




Meus ouvidos não suportam tanto barulho.  Além de um certo limite, deixo de ouvir meus próprios pensamentos. Tento concatenar as ideias, mas elas não tem mais voz, não são mudas, mas só se expressam através de gestos, que eu não entendo.

Fazem sinais desesperados, não sei se me perturbo mais por não escutá-las ou se por não entender o que me dizem por gesticulação.  Elas e eu sabemos que devo parar o barulho que vem de fora, porque o interno já é grande o bastante!


392 "A DOIS PASSOS" 01/03/17

392
"A DOIS PASSOS"
01/03/17




Tenho um desejo incontrolável de rodar o guarda-chuva apoiado em meus ombros.  Quando criança, não podia fazer isso - me diziam que não prestava, dava azar - nunca entendi por quê.  E até hoje, não entendo, não faz o menor sentido, deixar de rodar o guarda-chuva, por conta de algum mal que pudesse acontecer – a mim, ou a alguém da minha família.  Talvez fosse, o perigo de furar o olho de alguém com suas ponteiras, ou machucar a minha pele, caso tivesse alguma rebarba de metal.  Hoje, eu rodo quantas vezes eu quiser, e sempre me lembro daquela vontade reprimida – por nada. 

Um dançarino de frevo rodaria – é o que ele faria antes de uma apresentação.  Embora eu nunca tenha dançado frevo, tenho ao menos a vontade do bailarino, de rodar o guarda-chuva sobre meus ombros.

Frevo, uma das danças mais difíceis.  Imagino que deva ser – 'dançar' - e ainda dançar com as pernas flexionadas?   Seria um derivado de uma tortura russa?  Ao que se sei – existe tortura chinesa, mas russa? ... Certamente, há muitas torturas, de todas as nacionalidades, de todos os tipos.

O mais próximo disso que conheço é de ‘pular miudinho’ ou de ‘cortar um dobrado’ – isso, eu faço, e muito!  Talvez dance o frevo sem o saber!  Um derivado do derivado de uma tortura russa!?

Sabe aquela situação em que eu mesma me coloquei?  Se me perguntassem antes, se eu queria dançar essa dança – eu responderia com um sonoro 'não'!  Mas cá estou, dançando a música que vem de fora, a passos forçados, apesar de cansada, parecendo uma marionete e encenando um 'sim'.

Danço sim – um derivado do derivado de uma tortura russa – faço isso sem guarda-chuva, sem colorido e sem vontade ou disposição.

Sempre a ‘dois passos do paraíso’ - sem conseguir adentrá-lo!  Esse seria meu refrão!

Caso eu prefira uma música das minhas – só mesmo com fones de ouvido.  Sem eles, o ritmo é outro - sem me perguntarem se gosto, se quero - a marionete se põe a dançar, sem me aperceber disso!


391 LEGADO E HERANÇA 01/03/17

391  
LEGADO E HERANÇA
01/03/17





Os homens colonizam as terras e as mulheres, tomam posse delas e nelas semeiam – fecundando-as.  As terras, eles fazem produzir.  Nas mulheres, eles esperam que brotem as suas sementes – deixarão a sua descendência à posteridade, para que possam garantir a posse da mesma terra, quando não puderem mais garantir por eles mesmos, depois de mortos.

Quando os homens não gostam de suas plantações, por um motivo ou outro, eles as mandam queimar.  Podem também renegar a semente colocada no ventre da mulher, quando não gostam do que colhem.

A terra é sempre mãe – da colheita rejeitada pelo homem, ela poderia muito bem, oferecer aos animais pequenos e grandes, para que se fartassem dela.

Da semente que cresceu em seu ventre, a mulher é terra também – não renega o que nutriu – sabe que o seu fruto será útil à humanidade,  servirá aos homens, independente do que venha se tornar, será sempre 'aquele' que poderá fazer a diferença, com suas ideias e sua contribuição única para a humanidade.



arte | jamie heiden

390 TERRA-LUA-SOL 01/03/17

390
TERRA-LUA-SOL
01/03/17





Cabeça na lua e pés na terra!
Da lua ao sol outra viagem!
Banho de luar e sol!

Pra se chegar ao mar
é preciso transpor os rios
- dentro de margens definidas -
alteradas pelas chuvas 
ou pela falta delas.

Primeiro, vamos nadar neles
para dissipar o medo
depois enfrentaremos
os mares abertos!


122 O INCOMENSURÁVEL 01/03/16

122
O INCOMENSURÁVEL
01/03/16
  


O pensamento foi 'passear' - dar umas bandas! É o que ele faz de melhor...

Sem asas ou arreios, ele voa e galopa. Nem sempre me leva pra onde 'quero ir', mas me leva aonde lhe 'peço pra ir'.  Me faz pensar que sempre me leva aonde 'preciso ir'!

Não tem tempo ruim, estrada difícil, ou pernas cansadas, (ele não as tem) está sempre disposto a 'viajar'.  E como 'divaga' esse bichinho!  

Às vezes me pergunto:  porque é tão volátil?  Como foge à lei da gravidade e a outras tantas! De que matéria é feito? Não existe barreira capaz de detê-lo: tempo, espaço? ... Nenhuma!

Obedece sempre à geometria invisível do universo!  

A mim, me parece que age pela atração ou repulsão de uma ideia ou coisa ... e o meu entendimento chega até aqui!


120 PINGOS DE CHORO 28/02/16

120

PINGOS DE CHORO
28/02/16





As 'rainhas do abismo' -  têm esse nome, porque reinam mesmo solitárias, em qualquer reentrância das pedras, nos penhascos ou no chão pedregoso sem terra.

'Eremitas'- vivem isoladas e auto-suficientes de quase  tudo.  Nascem no verão e continuam a desabrochar nos primeiros meses do outono. 

Vamos falar de uma em 'específico', que pendurou-se num paredão íngreme de uma encosta - numa falésia morta de granito.  É como se nascesse da rocha, embora sabe-se, que a semente foi trazida pelo vento ou pelo bico de um pássaro... 

Vive da luz do sol.  Se alimenta do ar e de pequenos 'pingos de choro',  de sabor doce, que a natureza respinga sobre ela , de uma queda dágua próxima, antes que esta alcance o mar.


São  pequenas flores alaranjadas em formato de sinos alongados - representam a esperança de sobrevivência  em locais rudes e inclementes, que não lhes oferecem nenhuma hospitalidade.


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

912

ELA, SENTINELA
27/02/19





Ela ainda espera por quimera
 de plantão, plantada no portão.
O amor que veio, veio feio
não sabia abraçar, só apertar.
Nunca a escutava e não era surdo!
Só machucava, falava absurdo.
Na hora do aperto, não ficava perto.
Conforme o assunto, não 'tava' junto.
Quando ela inquiria, não respondia.
Dividia e diminuía, pra ela.
Multiplicava e somava, pra ele.
E assim foi sinalizando, revelando
que a ela, não servia de companhia.

Não procura por beleza, muito menos realeza!
Integridade e maturidade, é o que espera!
Por isso a moça, agora remoça
 se recompõe e se expõe!
Desenterra o sonho risonho
... não espera ser dondoca
mas sabe, que sua vida, não mais subloca!


625

TEMPO DE DESAPRESSAR
27/02/18






Já não ando com tanta pressa, porque sei que um tombo ou tropeço, à essa altura pode ser cruel, meus passos são mais lentos, curtos e determinados.

Prefiro não dá-los, a aventurar-me no escuro.

De nada vale, e de nada valeu a minha pressa, foi-se o 'tempo de apressar'.

A vida tem mesmo o seu próprio tempo, e ela não segue o meu, nem o de ninguém.

Acreditei que passos rápidos e largos, fariam a diferença pra chegar onde queria.  Não fizeram, como também não me levaram onde esperei chegar.

Afinal, apreendi a lição, a vida não obedece outro tempo, que não o seu ... e mais nenhum.  Nós é que temos que aprender a lidar com a frustração e todos os outros sentimentos.

Acho que estou de frente a um espelho que reflete a minha imagem em tamanho natural, o comprimento das minhas pernas, a força dos meus braços - o quanto eu 'posso', de verdade.

A experiência - ela ilumina a estrada que deixei pra trás, mas ela não é muda, possui uma voz a me dizer:  "Pra que tanta pressa?  Menos ... menos!"

É ela mesma que me fala, insistente:  "Escute o seu corpo ... veja os resultados de suas ações!  Algumas coisas ficarão por serem feitas, apesar das tantas tentativas, de todo o movimento nesse sentido.  E se forem referentes à vida alheia, esqueça!"

Entre outras coisas, ela a voz, me conforta:  "Se tivesse que ser diferente, depois de tudo o que foi feito, e ainda está 'assim' - é porque não era pra mudar!"



arte | anne solini

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

624

SONS SÓ MEUS
25/02/18







Eu não sou aquela canção que insiste em tocar na minha cabeça, mas pareço ser.  Por mais que eu tente, a esmo, encontrar a tecla do 'off', permaneço tateando às escuras e ouvindo a contragosto a mesma canção inconveniente.  

De início, foi prazeroso cantarolar algo que gosto, em melodia e letra, mas quando tal reprodução passa a ser insistente, acima de qualquer vontade que eu possa ter, começo a me irritar com a minha incapacidade de controlar os sons que 'tocam' na minha mente.  Eles se tornam intrusos e indesejáveis. 

O que gosto, passou a ser uma obsessão aos meus ouvidos internos, já que o sons não entram pelas minhas orelhas - eu mesma os coloquei lá.

Eu sei que existem aquelas músicas que 'pegam', feitas com intuito de comercialização, mas não é o caso.

Não sei quais são os comandos para me livrar dessa tortura.  Acredito que acabe se esgotando por ela mesma.  Até que uma próxima canção venha substituí-la ... e eu espero, que esta, não se torne tão teimosa quanto a outra.

Não sei também, o que é pior, uma música que se repete infinitas vezes ou um pensamento que não obedece minha ordem de sair de cena!


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SEM OBJETO
25/02/16






O tempo não cura - 
ele só afasta a dor 
pra mais longe! 
Faz acontecerem 
outras tantas dores, 
que nos esquecemos 
um pouco da antiga!
Se você não procurar 
a cura, 
ela não acontecerá espontaneamente.
Nem sempre 
construir será possível ... teremos que "desconstruir" 
algo em nós "cristalizado", 
que nos fere com  facetas pontiagudas. 
A dor vem de dentro 
e o passado, 
por mais triste ... 
nos trouxe até aqui!
Se quisermos realmente 
a "construção" 
de novos conceitos - 
devemos vencer as limitações que nos impõem 
as crenças descabidas, 
que ainda nos governam!


É urgente aprendermos 
a extirpar das entranhas, 
os medos 'sem objeto', 
que funcionam como ácido 
a  corroer as mucosas. 

118

POR ONDE ENTRAM AS IDEIAS
25/02/16





Pelos olhos, ouvidos ...
... ! ...
... ?...

Eu diria que já estão lá - dentro de nós - em estado embrionário/latente, antes que despertem da letargia e ganhem identidade.

Chegam até nós, tantas informações, e para algumas não damos atenção!  Só quando o que vemos/ouvimos encontra ressonância com o que já está lá, é que consideramos como válido para compor nosso pensamento!

Podemos ler, ver ou ouvir algo que encontra um eco tão forte dentro de nós, que engrossa aquela 'vaga lembrança' pré-existente que se encontrava guardada.


Muitas vezes não temos opinião formada a respeito de um assunto - outras vezes - percebemos que pensávamos justamente daquela forma e não sabíamos - só nos damos conta, quando uma palavra, um sentimento, um fato, faz soar um alarme que culmina por direcionar o foco do nosso olhar para determinado ponto, como se usássemos uma lupa.
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CANTOS E PONTOS 
24/02/19





Se nosso planeta é redondo
- uma ideia que casou estrondo -
por que lhe deram cantos?
Substitua, canto por ponto
então ... no entanto e conquanto
apesar de seus encantos, nunca terá cantos!
No máximo, tem recantos!
Pra nós, ele é uma bola
que nos serve de escola
com lado de dentro e de fora.
O de dentro uma ânfora
guarda segredos, nos traz medos.
Fora: arvoredo, passaredo, rochedos!
Não é uma caixa
é uma grande bolha
por fora é forma fixa
e por dentro, ela nos olha!


910

ESTRANHA PAIXÃO
24/02/19



Ela e seu sapato cor de rato 
... cor indefinida, pros dias sem saída ...
que combina patavina, com a rotina
quando é descontraída e colorida.
Lá vai ela, às vezes, tão singela ...
bela, vestindo uma roupa amarela 
e de sapato cor de rato ...
parece andar descalçada, pela calçada.
A boca 'nude', uma certa pureza alude.
Quando quer ser mulher, mira-se ...
a si e a seu sapato vermelho, no espelho e
na boca magenta, a pureza não se sustenta!


 arte | nina de san