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INUSITADA, NO MÍNIMO
Foi como me senti. Com o oceano dentro de mim, mais as suas estranhas criaturas desconhecidas. Podia ouvir o barulho das suas águas, quando esgueiravam-se pelas minhas entranhas, desviando dos meus órgãos, aos quais nunca vi - conhecendo-os, dessa vez, os órgãos e as criaturas. Águas doces, as identifiquei em meu sangue, eu também as carregava.
Sentia, as unhas crescerem debaixo da carne dos dedos, as asas despontarem por sobre os meus braços, tomando conta totalmente, dos meus antebraços, mãos, até que, aos olhá-los, enxergava somente penas, brilhando sob a luz do sol.
Meus dentes, se modificaram dentro de minha arcada dentária, os caninos cresceram além das proporções de um humano. Os músculos tomaram contornos diferentes, mais aptos à caça e à fuga. Eu podia correr velozmente, com minhas quatro pernas, ou melhor, patas, e às vezes, eu as tirava do chão, as quatro de uma vez, e sem tocá-lo, ficava suspenso no ar. Quanto mais rápido eu corria, mais via a minha pele suar e virar uma pelagem grossa, de vários matizes, que se mesclavam na mesma criatura - eu.
Descobri em mim, uma capacidade de sons, que podiam sair da minha garganta, alternados em uivos, rugidos e até cantos.
Sob o comando da mente, minhas pernas e pés, se transformavam em cauda longa, com escamas e nadadeiras, podiam me levar bem longe e bem rápido, a qualquer canto dos mares. Meus pulmões tinham a mesma capacidade, em todos os lugares.
Conseguia identificar, cada um dos minerais formadores das rochas milenares, dentro de mim, em minúsculas partículas, mas ainda assim, eu os percebia. Resquícios de quando fui pedra.
O efeito do sol sobre a pele humana, se assemelha ao da fotossíntese nos vegetais, das reações que nos causa, a nossa exposição à sua luz e calor.
Foi uma viagem, feita pelos reinos da criação, sem estar em estado aletrado de consciência, apenas me deixando levar. Não foi uma viagem que obedecesse à clareza linear dos fatos, foi algo bem fora de uma sequência inteligível. Até agora não sei, houve momentos em que me pareceu um déjà vu, mas não posso afirmar nada, são apenas devaneios de uma mente ociosa e solta.
29/03/19
arte | christian schcloe
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