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BANDEIROLAS DE FESTA
Junto com meus cabelos, eu trançava uma fita colorida, grossa, diferente de uma acetinada - era mesmo de tecido rústico. Ajudava a fixar os fios para que não caíssem sobre meus ombros e me atrapalhassem no trabalho. Eu prendia tudo, em voltas sobre minha cabeça.
Lá ia eu, em direção ao rio, onde as roupas seriam lavadas e batidas nas pedras que formavam degraus em suas margens. Ali mesmo ficariam expostas ao sol, esquentando e fixando na trama do tecido, a essência das ervas que eu esfregava junto com o sabão.
Eu as dispunha em cores e tons semelhantes, crescentes ou decrescentes, e costuma imaginar bandeirolas festivas a tremularem ao vento, nos dias de diversão.
As roupas ouviam as canções que eu e as demais lavadeiras entoávamos, não sabíamos de onde vinham, há quanto tempo eram cantadas, quem eram os compositores, mas nós as conhecíamos desde crianças, pelas vozes de nossas mães.
Carregava a tina cheia de roupas, em direção ao plano mais baixo do terreno, onde ficava o rio. Na ida tinham um peso, a sujeira. Na volta, apesar de molhadas, pesavam menos, exalavam um perfume que não sei explicar: a sua soma era maior do que o aroma das ervas, mais o sabão, mais a água, mais a luz do sol, mais as canções ouvidas.
Eu as estenderia pelos varais, dispostas da mesma maneira que as colocara ao sol, pelas variantes das cores. Enquanto secassem, elas espalhariam respingos de água, e eu estaria a imaginar as mesmas bandeirolas festivas tremulantes, só que dessa vez, perfumadas e macias. A festa seria no meu quintal.
28/03/18
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