sexta-feira, 29 de março de 2019

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RUA 27 DE MAIO

Ela morava na rua 27 de maio de um ano qualquer.  Vestia um casaco dois números abaixo do seu, sentia frio porque ele não fechava.  Calçava sapatos desconfortáveis, nem sabia porque!  Sua comida já não tinha gosto e a sua bebida vivia sem graça.

Tudo ao seu redor era sem cor, estava tudo desbotado, embora enxergasse bem e cuidasse de tudo muito bem!

Trazia uns pensamentos dos quais já tinha se cansado.  Eram sempre os mesmos, como aquelas músicas que não saem da nossa cabeça, mesmo não gostando delas.  Tudo igual, tudo rotina.

Um dia, ela andando pelo mesmo lugar, vestindo o mesmo casaco, com pés normalmente doídos e achando que tinha perdido o paladar ... ela sentou-se no mesmo banco, o de sempre, da mesma praça e percebeu que estivera andando e vivendo e comendo e amando no passado.  Sua casa já não era mais na rua 27 de maio, tinha enjoado dela.

Doou o casaco, jogou fora os sapatos porque estavam imprestáveis, passou numa loja que nem conhecia, e comprou tudo novo.  Num lugar novo, totalmente novo, que nunca tinha entrado, escolheu algo pra comer e beber, que nunca tinha provado antes - enfim  aceitou a sugestão do garçom.

Ela viu como era bom estar confortável, degustar com prazer novos sabores, escutar novas músicas.

Sem querer começou a dançar, sozinha sem vergonha da sua alegria. 

Conheceu outros lugares, de barriga cheia, satisfeita, cantarolando  -  foi pra casa escrever, mas não voltou mais à rua 27 de maio.
29/03/18



arte | greg spalenka

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