sábado, 9 de março de 2019

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AREIA E LIMITES
09/03/19


Chovia e os pingos caiam, como setas invisíveis, sobre a areia fofa.
Não me incomodavam, caiam simétricos, deixando buracos, que se ligados entre si, dariam várias figuras geométricas.

A constância e a cadência deles, provocavam em mim, um efeito hipnótico.
Automaticamente, me vi longe dali - em pensamento é claro!
Ele voou, como se estivesse, até aquele momento, à espera de uma deixa para bater asas.

Eu pensei na pressa de toda criança em crescer, em sair da pequena praça e ganhar o mundo ... para um bom tempo depois, bem crescida já, retornar à casa paterna, aos seus quintais e jardins, às coisas familiares.

No afã de experimentar novos sabores e se fartar deles, para só então, perceber que o melhor sabor é o da nossa infância, que melhor seria plantarmos nosso próprio alimento no nosso chão, pois só assim teríamos certeza da procedência pura.

Pensei também, que é preciso ter demais, para dar valor ao que realmente importa, lembrar-se da simplicidade e da nossa inocência, em imaginar que mais, nos faria satisfeitos e plenos.  Numa viagem de volta à casa, ao marco zero de importância - nós!

Os pingos passaram a ser mais fortes e menos simétricos, que em contato com minha pele, acabaram com a minha letargia, me arrancando de vez do marasmo voluntário a que me sujeitei.

Caíam agora, gelados e pontiagudos, avisando-me que era hora de me recolher, foi como se a vida me fizesse regurgitar o sedativo e forçasse meu espírito para fora, para assumir seu papel no momento presente.

Ah! como é difícil deixar-se trespassar pelas pessoas, pelos acontecimentos, sem deixar que levem um pedaço de nós, arremetendo-o a um lugar desconhecido.

Permitir apenas, o toque suficiente para sentir, aprender com a troca, sem arrancar nada que nos faça falta, mais tarde.  Não permitir que nos roubem  (roubo consentido), sem sermos refratários às boas coisas.

Eu me lembro dos pingos que furaram a areia fofa, sem que ela se desse conta, simplesmente ela estava lá, passiva e sentido as flechas espetando sua maciez.

Tudo deve ter um limite!  Do quanto devemos comer, até onde devemos permitir nos deixar invadir, até para os nossos pensamentos existem limites saudáveis!




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