segunda-feira, 25 de março de 2019

926



QUADRO VIVO

Sentei-me à beira da praia, onde o mar se desmancha em ondas.

Não há duas iguais, todas têm personalidade e performance diferentes.

Se fosse possível nomear a cada uma, seriam tantos os nomes, quanto os grãos de areia tocados por elas.

Algumas deixam para estourar quando estão próximas do fim.

Existem ondas que chegam bravas, barulhentas, revolvendo o fundo, que se deitam silenciosas na areia seca, vindo lamber nossos pés, como um cãozinho dócil.

Algumas desenham curvas exóticas, imprevisíveis, mais longas que as anteriores, como se quisessem ver, qual delas chega mais longe!

Têm aquelas que borbulham feito uma bebida espumante, espirrando sal sobre nós.

Gosto de todas, e quando alguma me encanta com seu furor ou com seu desfecho particular, fico a esperar que se repita sob meu olhar de observador.  Mas ela não se repetirá, as outras serão outras.

Cada uma tem sua dança, sua maneira de se deixar morrer na areia, porque sabe, que retornará ao fundo do oceano, para renovar suas forças.

Se eu fosse um pintor, acharia difícil, escolher alguma delas para imortalizar em tela, seria no mínimo um enorme e injusto desperdício.

Como não sou, levo comigo na mente, um quadro vivo, delas deslizantes sob minhas vistas.

Sempre que precisar, eu o buscarei nas minhas lembranças.  Eu o retirarei do recanto onde o guardo, o colocarei à minha frente e imaginarei dentro dele, um ponto diminuto, na faixa de areia.  Esse ponto, saberei que sou eu, que sempre estará lá!



25/03/19



Nenhum comentário:

Postar um comentário