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A TUA CASA
Tu nem imaginas, mas povoas os meus sonhos.
Neles, meu coração é a tua casa, onde és a dona. Andas nua pelos inúmeros cômodos, danças pelos vastos salões, alegre e despretensiosa, dispões de tudo que lá existe, para teu bel prazer, arrumas os móveis e enfeites, como queres. Descalça no jardim, colhes as flores que desejas; e das árvores frutíferas, os frutos que te apetecem. Sob a sombra das trepadeiras, senta-te no banco do pavilhão florido, onde lês os teus preferidos.
Não há limites para ti, és quem manda, no lugar que se tornou nosso mundo. Habitas todos os seus confins, preenchendo todos os espaços. À escuridão da noite, não se teme, não há nada escondido sob as camas, atrás das cortinas - é apenas a noite, até que o sol adentre a manhã. Não existe mágoa que se deite, em nossos travesseiros, levada ao outro dia. As únicas cercas, são as vivas.
Real e imaginário, saltas de um mundo ao outro, com a leveza da pluma, com a rapidez do som e pela força do pensamento. Tuas vestes e feições, se tornam translúcidas e as visões, nesse recanto ilusório, beiram a perfeição. Por vezes vens ao meu encontro, noutras, me esperas à soleira da porta principal.
Em tua sã consciência, se soubesses do que sonho: tu, tão a vontade e transparente - te sentirias constrangida; mas não é como a vejo - estás plena, feliz, livre, permaneces voluntariamente, dentro de minha casa, que sempre conservará suas portas e janelas abertas, desimpedidas, para que possam ir e vir, tu e as claridades dos dias.
26/03/19
arte | christian scloe
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