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LUZ, PRESENÇA E LIBERDADE
19/02/19
Numa de minhas andanças por aí,
olhando pra cima, eu vi um prédio de apartamentos, construído já há algum
tempo, quando espaço e conforto ainda eram valorizados - confesso que chamou
minha atenção.
Eu
estava de frente pra face lateral dele, não via sua fachada, via suas áreas de
serviço: retangulares e amplas, embora fechadas por um tipo de elemento vazado,
quadriculado da cor cinza.
Como
eterna reformadora, imaginei pra ele, um outro tipo de fechamento, um pouco
menos tosco, mais colorido.
Botei
reparo e vi, que de um dos espaços, saia um galho verdinho, se esgueirando pelo
material grosseiro, escapando em direção à luz, como se na ponta dele houvesse
um olho, um nariz, uma orelha, ou câmera.
Pensei
então: que aqueles elementos cinzentos, vazados e de mau gosto - que não
combinavam nem um pouco, com a elegância do bairro - serviam apenas pra manter
afastados, os seres humanos indesejáveis e pra prenderem, outros seres humanos
dentro deles.
Logo
mais à frente, também vi, um pequeno pássaro pousado, entre um dos espaços, do
fechamento de um outro apartamento: ele colocava sua cabeça pra dentro e pra
fora, piando e indeciso se valia a pena entrar ou não, acabei por não saber o
que ele decidiu fazer, porque fui andando, em direção ao meu destino.
Uma
coisa leva à outra, então de imediato me veio à mente, a ideia de 'preto e
branco', ou 'branco e preto'. Entre as duas possibilidades, eu encaixei o
cinza que havia chamado minha atenção.
Sem
dúvida, o cinza é o recheio, que existe entre uma cor e outra, um pouco mais de
uma, menos da outra, em muitas variações, muito mais do que cinquenta, mas ele
estará sempre ali, no meio, entre as duas.
Já estive por algum tempo, vendo
imagens em preto e branco, depois, acabei
por imaginar cores, nas mesmas imagens, ansiando colorir com os meus olhos
aquilo que via, adivinhando quais seriam as mais adequadas.
Ainda
me deixando levar pelo pensamento: só dentro do preto, é que conseguimos
visualizar o branco ... se ele estiver nas beiradas, é provável que não o
vejamos, salvo se estiverem os dois sobre uma folha de papel, obviamente
branca. Ainda assim é possível que passe despercebido.
Associei
branco à ausência, ao preto a presença. Depois pensei, não seria
exatamente o contrário? Luz e cor, presença e ausência. Se o branco
é a união de todas as cores, então, tudo é presença.
Deixa
pra lá! O que pude perceber é que a vegetação e os pássaros não se deixam
encarcerar, apenas os homens.
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