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EFEITO PERFEITO
10/02/17
Tenho madrugadas em que me é impossível permanecer deitada na cama. Surgem do nada, não sei de onde - as ideias pipocantes - na panela quente da minha cabeça, que afastam de vez o sono e ainda se recusam a esperar pela manhã seguinte pra serem registradas.
As palavras, as frases inteiras, desfilam num letreiro luminoso em fundo escuro – repetidas e melhoradas – até atingirem o efeito perfeito de frases perfeitas.
E eu, com receio de perder o ‘efeito perfeito’, de me esquecer antes mesmo de poder registrá-lo, me levanto e o transcrevo no papel.
Estou em tempo real, sentada à mesa da cozinha, sinto areia em meus olhos, de sono. São exatos, dez minutos antes das duas horas, do dia 10 de fevereiro. O relógio da parede marca um riso em sua face - dez pras duas - o contrário de dez e dez - ele se ri de mim, de minha condição.
Isso não é normal, já falei a respeito, em mais de uma oportunidade. Se parece mais com uma doença, do tipo daquela que faz com que as pessoas confiram inúmeras vezes o fechamento das portas, o desligar dos aparelhos, o apagar das luzes.
Depois que as palavras estão no papel, a necessidade some e enfim posso voltar pro quarto. Sei que só consigo deitar na cama e dormir, se antes deitar no papel os pensamentos que me atormentam – uma parte de mim ainda insone.
Desses meus arroubos noturnos, costumam render bons textos, não tanto por inspiração, mas mais por transpiração. Vocês não têm ideia do quanto exaustivo é!
Esses ataques, invariavelmente, me levam à geladeira, ou ao armário pra ver o que tem de comestível lá. Necessito repor minhas reservas noturnas – as calorias que gastei pensando. Não dizem que pensar cansa?
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