quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

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SOBRE OS ABRAÇOS E OS BRAÇOS
13/02/19



Hoje, eu me peguei pensando na natureza da espécie humana, em especial - na do espécime do gênero feminino ...

 

Eu permanecia enlatada, quase que à vácuo, num coletivo, hermeticamente fechado.  Chovia muito e as pessoas conservavam as janelas fechadas.  Devido à pressa do motorista (sem desconsiderar a nossa), o ônibus fazia seu percurso, numa velocidade maior do que a habitual, para tirar o atraso.

 

Como este, se demorou a passar no ponto, estava mais do que lotado: com não sei quantos passageiros, mais suas bolsas, mochilas, guarda-chuvas, sacolas e outros apetrechos.   A única parte do meu corpo, que eu podia mexer, eram os meus pés (e era preciso mexe-los), para manter meu equilíbrio nas curvas e nos desvios malucos, feitos pelo seu condutor.  

 

Eu me sentia surfando sobre as ondas - só que secas - porque o mar estava lá fora. Aliás, eu minto, além dos pés, eu mexia também, meus olhos, e só isso!

 

Me lembrei daqueles episódios, que todas as mulheres já tiveram, quando estão em banheiros públicos, tentando fazer seu xixizinho básico, dentro de um reservado com porta sem tranca, fazendo exercício de agachamento, contraindo os músculos das pernas, pra não encostar no assento, não cair e a o mesmo tempo tentando relaxar a pelve e esvaziar a bexiga - dois movimentos completamente opostos.  Quando não, também, segurando bolsa, sacola e sabe-se lá mais o quê!

 

Pois bem, todo esse rodeio para explicar o contexto em que me achava imersa.  

 

 

*

 

Vi do lado de fora, através do vidro embaçado, a mulher, que carregava uma criança em sua anca esquerda, em seu braço oposto, dependurada no ombro, levava uma sacola infantil e com a mão direta, segurava um guarda-chuva, pendendo para o lado esquerdo.  Era muita coisa, para uma mulher segurar sozinha, ao mesmo tempo - mas ela fazia sem demonstrar nenhum esforço em seu rosto.  Parecia até que o fazia com um certo prazer.

 

Pensava em como somos capazes de abraçar tantas coisas, tendo apenas dois braços, o que vale também para o espécime do gênero masculino, mas convenhamos, que as mulheres são capazes de abraçarem muito mais do que os homens.  Não falo do abraçar do verbo ‘abraçar, de envolver com os braços’, a isto inclusive - mas eu me refiro, a 'abraçar' as causas que julgamos nobres, 'abraçar' aos que dependem de nós, 'abraçar' às pessoas que evocam e invocam em nós, o nosso sentimento maternal.  Ainda é preciso que eu diga –  em geral, os braços femininos são mais curtos, do que os masculinos!

 

Aprendemos logo cedo, a tirar 'leite de pedra', nos viramos com muito menos do que 'trinta', somos eximias bailarinas, fazemos mágicas e ainda operamos verdadeiros milagres.

 

A Rita* bem disse, numa de suas músicas: "mulher é um bicho esquisito, todo mês sangra" ... mas mesmo quando ela pára de sangrar, ainda assim, continua sendo esquisita - e o será pelo resto da vida.  Pois será capaz de fazer coisas, das quais o diabo duvida e os homens nunca entenderão o motivo, dentro de uma lógica racional e quadrilátera, bem típica do espécime do gênero masculino.

 

 

Rita* - refiro-me à Rita Lee __ ‘Cor de rosa choque’

 

 


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