Hoje, eu me
peguei pensando na natureza da espécie humana, em especial - na do espécime do
gênero feminino ...
Eu
permanecia enlatada, quase que à vácuo, num coletivo, hermeticamente
fechado. Chovia muito e as pessoas conservavam as janelas
fechadas. Devido à pressa do motorista (sem desconsiderar a nossa), o
ônibus fazia seu percurso, numa velocidade maior do que a habitual, para
tirar o atraso.
Como
este, se demorou a passar no ponto, estava mais do que lotado: com não sei
quantos passageiros, mais suas bolsas, mochilas, guarda-chuvas, sacolas e
outros apetrechos. A única parte do meu corpo, que eu podia
mexer, eram os meus pés (e era preciso mexe-los), para manter meu equilíbrio
nas curvas e nos desvios malucos, feitos pelo seu condutor.
Eu me
sentia surfando sobre as ondas - só que secas - porque o mar estava lá
fora. Aliás, eu minto, além dos pés, eu mexia também, meus olhos, e só
isso!
Me
lembrei daqueles episódios, que todas as mulheres já tiveram, quando estão em
banheiros públicos, tentando fazer seu xixizinho básico, dentro de um reservado
com porta sem tranca, fazendo exercício de agachamento, contraindo os músculos
das pernas, pra não encostar no assento, não cair e a o mesmo tempo tentando
relaxar a pelve e esvaziar a bexiga - dois movimentos completamente
opostos. Quando não, também, segurando bolsa, sacola e sabe-se lá mais o
quê!
Pois
bem, todo esse rodeio para explicar o contexto em que me achava
imersa.
*
Vi do
lado de fora, através do vidro embaçado, a mulher, que carregava uma criança em
sua anca esquerda, em seu braço oposto, dependurada no ombro, levava uma sacola
infantil e com a mão direta, segurava um guarda-chuva, pendendo para o
lado esquerdo. Era muita coisa, para uma mulher segurar sozinha, ao mesmo
tempo - mas ela fazia sem demonstrar nenhum esforço em seu rosto. Parecia
até que o fazia com um certo prazer.
Pensava
em como somos capazes de abraçar tantas coisas, tendo apenas dois braços, o que
vale também para o espécime do gênero masculino, mas convenhamos, que as
mulheres são capazes de abraçarem muito mais do que os homens. Não falo
do abraçar do verbo ‘abraçar, de envolver com os braços’, a isto inclusive -
mas eu me refiro, a 'abraçar' as causas que julgamos nobres, 'abraçar' aos que
dependem de nós, 'abraçar' às pessoas que evocam e invocam em nós, o nosso
sentimento maternal. Ainda é preciso que
eu diga – em geral, os braços femininos
são mais curtos, do que os masculinos!
Aprendemos logo cedo, a tirar 'leite de pedra', nos viramos
com muito menos do que 'trinta', somos eximias bailarinas, fazemos mágicas e
ainda operamos verdadeiros milagres.
A Rita*
bem disse, numa de suas músicas: "mulher é um bicho esquisito, todo mês
sangra" ... mas mesmo quando ela pára de sangrar, ainda assim, continua
sendo esquisita - e o será pelo resto da vida. Pois será capaz de fazer
coisas, das quais o diabo duvida e os homens nunca entenderão o motivo, dentro
de uma lógica racional e quadrilátera, bem típica do espécime do gênero
masculino.
Rita* - refiro-me à Rita Lee __ ‘Cor de rosa choque’
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