RUA 27 DE MAIO ______________________________________ 419
Greg Spalenka |
Rua
27 de maio
Ela
morava na rua 27 de maio de um ano qualquer. Vestia um casaco dois números
abaixo do seu, sentia frio porque ele não fechava. Calçava sapatos desconfortáveis, nem sabia
porque! Sua comida já não tinha gosto e a
sua bebida vivia sem graça.
Tudo
ao seu redor era sem cor, estava tudo desbotado, embora enxergasse bem e cuidasse de tudo muito
bem!
Trazia
uns pensamentos dos quais já tinha se cansado.
Eram sempre os mesmos, como aquelas músicas que não saem da nossa
cabeça, mesmo não gostando delas. Tudo
igual, tudo rotina.
Um
dia, ela andando pelo mesmo lugar, vestindo o mesmo casaco, com pés normalmente
doídos e achando que tinha perdido o paladar ... ela sentou-se no mesmo banco,
o de sempre, da mesma praça e percebeu que estivera andando e vivendo e comendo
e amando no passado. Sua casa já não era
mais na rua 27 de maio, tinha enjoado dela.
Doou
o casaco, jogou fora os sapatos porque estavam imprestáveis, passou numa loja
que nem conhecia, e comprou tudo novo.
Num lugar novo, totalmente novo, que nunca tinha entrado, escolheu algo pra comer e beber, que nunca
tinha provado antes - enfim aceitou a
sugestão do garçom.
Ela
viu como era bom estar confortável, degustar com prazer novos sabores, escutar
novas músicas.
Sem
querer começou a dançar, sozinha sem vergonha da sua alegria.
Conheceu
outros lugares, de barriga cheia, satisfeita, cantarolando - foi pra casa escrever, mas não voltou mais à rua 27 de maio.
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