APENAS UM ___________________________________ 421
Apenas um
A ti confiei a chave
do portão do meu jardim. Onde guardava os tesouros que já trazia comigo, antes de ti ... aos quais deveriam se juntar, os que trarias contigo.
Vieste brincar nele,
com livre acesso. A brisa primaveril
beijou-te o rosto, enquanto corrias por entre os arbustos. Qualquer frescor e virtude havidos nessa estação, conheceste e
provaste deles. Foram promessas em palavras doces e gestos delicados. Apenas
revolveste a terra, fingindo semear.
Viveste nele, as
folias de verão, de rostos afogueados e vestes encharcadas de cumplicidades nas
reinações. Com suas explosões de ânimos alterados pelo calor. Nessa época vieram as grandes chuvas arrasadoras do solo, depois dos grandes raios e trovões amedrontadores.
Assististe o
descolorir da folhagem, ao cair de cada uma das folhas, desde a primeira até a
última ... indicando que era hora de mudança de mais uma estação. Foi nessa hora que pensei que não deveria ter
mais nada a provar, que o jardim era nosso, e que estaríamos seguros dentro
dele, por termos atingido a maturidade. Foi um ledo engano meu, descuidoso e desinformado ... pois perdeste a alegria de nele permanecer, por estar sem cor, mas nem por isso fizeste algo para fazê-lo reviver.
Então o inverno chegou e
não temos lenha pra jogar ao fogo, não é possível sobrevivermos às intempéries e
ao rigor com que o frio irá nos supliciar.
Virão os ventos fortes e gélidos, águas escuras caídas de um céu escuro
e triste.
Eu olho o meu jardim,
e vejo um único cravo semeado, lindo, perfumado - perfeito – lutando pela sobrevivência, mal se mantendo ereto, envolto
em arbustos secos e retorcidos, descoloridos pela sede, os mesmos que vimos crescer e não exterminamos.
É uma triste visão, do
que um dia foi um recanto verdejante e promissor. Choro pelo cravo, pela sua importância, pela sua beleza e sobretudo choro por mim.
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