quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Como Os Sentimentos Negativos Se Alimentam






Toda emoção negativa deseja se fortalecer. É como se ela tivesse vida e um tipo de inteligência própria que busca formas de se alimentar. A emoção toma de conta de nós em certas situações e fala através da nossa boca e age através do nosso corpo.
Já escrevi em outro artigo Você não é os seus pensamentos e sentimentos onde falo que nós não somos as emoções que carregamos, e sim, a “consciência que está por trás de tudo, o observador, a testemunha”.  Como se fosse uma entidade, a emoção pode nos possuir, gerando pensamentos e atitudes negativas, para que ela possa se alimentar e se perpetuar.
Observe a si mesmo. Eu me pego me irritando com certas coisas, e no momento em que isso ocorre, é quase irresistível sentir e agir da forma que ajo.  Neste momento, a emoção tomou conta de mim, influenciou meus pensamentos e ações. Na hora que acontece, as razões exteriores parecem justificar muito bem a forma que eu me sinto, falo e faço. É como se eu dissesse na hora: “não tem como não se irritar com isso, qualquer pessoa se sentiria assim!”. No entanto, é apenas a irritação que já está dentro de mim, manifestando-se, falando pela minha boca, querendo beber mais sofrimento e se fortalecer.
Veja se você consegue perceber de vez em quando, uma vontade irresistível de reclamar, de sentir raiva de algo, de falar mal de alguém ou do passado, de relembrar alguma situação desagradável. É apenas a emoção querendo sobreviver. A emoção fica latente, à espreita, esperando uma oportunidade para se alimentar. Situações externas e outras pessoas são os gatilhos que acordam essa negatividade. Você está tranquilo, quando de repente, alguém diz algo ou faz alguma coisa e aí surge um incômodo de forma instantânea. Quando você menos espera, a emoção já tomou conta, vários pensamentos negativos foram gerados e talvez você já tenha agido de uma determinada forma.
A emoção poderá nos influenciar levemente, gerando apenas alguns pensamentos negativos ou algumas palavras, mas pode também chegar a provocar ações violentas, e até mesmo crimes. É o mesmo mecanismo em ação, só que em níveis diferentes.
A intensidade da nossa reação vai depender de duas coisas: da força da emoção negativa que está guardada em nós, e do nosso grau de identificação com aquela emoção. Vou explicar melhor! Tem pessoas que são verdadeiras bombas-relógio. Tem uma carga emocional tão forte guardada (Coisas do passado mal resolvidas, mágoas, raivas, rejeições e etc..) que esse corpo emocional quando é ativado por algum acontecimento, a reação vem como uma avalanche incontrolável e toma conta da pessoa. Assim ela pode se tornar violenta, ou pode ficar triste e chorar desesperadamente. Quanto maior o conteúdo emocional, maiores as chances de sermos pegos de surpresa.
O grau de identificação com a emoção é o quanto você acredita que ela faz parte de você, do seu eu, da sua personalidade. Você não é os seus pensamentos e sentimentos, mas na maior parte do tempo, pensamos que somos. Então, quando surge a emoção negativa, se você tem uma consciência maior de que você não é aquilo e que ela deseja apenas se alimentar, é mais fácil observar a ação com calma, até que ela vai se dissolvendo aos poucos. O ideal é observar sem resistir, sem julgar, sem alimentar, somente sentindo a emoção, as reações físicas que ela causa e os pensamentos que ela provoca. Precisamos estar muito atentos para fazer isso!
No entanto, quando não temos consciência (E a maioria das pessoas não tem) de que a emoção não é quem nós somos, vamos alimentá-la quando ela surgir, com pensamentos e ações. Iremos argumentar interiormente que estamos totalmente certos em nos sentirmos daquela forma. Assim a emoção negativa cumpre o seu objetivo de se alimentar. Depois de um tempo, ela irá se acomodar no seu interior e vai aguardar uma outra oportunidade para se manifestar.
Observe o seguinte mecanismo: a pessoa está triste por causa de um término de um relacionamento e começa a ouvir músicas tristes para “curtir a dor”. É a própria emoção da tristeza dirigindo as ações da pessoa para se alimentar. Ela fará você escolher as músicas mais tristes para tocar. E assim você sente um estranho misto de prazer e dor. Prazer para quem? Para a tristeza instalada, a dor de ouvir a música triste é prazer.
Esse mecanismo ocorre também quando começamos a alimentar lembranças de histórias passadas: brigas, perdas, culpas, frustrações e etc… Criamos um diálogo mental falando de um evento passado desagradável. Esse diálogo pode ficar relembrando falas que foram ditas, coisas que você poderia ter feito mas não fez. É possível também que esse diálogo tenha um tom de vitimismo ou agressividade. Podem também surgir imagens do que ocorreu, ou do que poderia ter ocorrido. Algumas pessoas remoem compulsivamente histórias do passado...
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