As Consequências de Ser Diferente da Família
Ser diferente da família pode trazer conflitos emocionais intensos. Um filho que tenha uma atitude diferente, mais ousada, mais ativa, que seja melhor financeiramente, que não seja permissivo como talvez sejam os pais, muitas vezes sofre sérias consequências. Se for diferente para algo que seja considerado “pior”, se é mais passivo, submisso, menos ativo, menos próspero pode também sofrer sérias pressões da família. Existe uma resistência à mudança. O sistema familiar quer se manter com os mesmos padrões emocionais: jogos de culpa, dependência emocional, dominação, submissão, controle e etc… A mãe dominadora usará todas as ferramentas que dispuser para manter a dominação: chantagem, ameaças emocionais e etc. O filho que ousar sair da dominação sofrerá as consequências. O que faz o papel da vítima resistirá a sair do papel indo contra todos os argumentos e conselhos que lhe for oferecido.As Consequências de Ser Diferente da Família
A mudança traz incômodo. Tira as pessoas da zona de conforto. Quando algum membro tem uma atitude diferente do que a família está acostumada, isso pode produzir um grande desconforto. E a reação pode ser em forma de crítica e vários tipo de punição e pressão para reprimir a ação que leva outros familiares a sair da zona de conforto.
Temos dificuldade em expandir a zona de conforto porque é um tanto doloroso. Mesmo quando sabemos que à mudança pode nos proporcionar uma vida melhor, ações e reações conscientes e inconscientes são tomadas por nós mesmos para não sairmos do patamar que nos é conhecido, e portanto, confortável (mesmo que seja ruim).
Atendi uma cliente que se queixava de não conseguir se manter em namoros por muito tempo. Para toda dificuldade existe sempre uma razão. Eu procuro investigar as causas e elas vão aparecendo durante a sessão.
Ela relatava que os pais eram muito passivos. Que todo mundo fazia o que queria: familiares “se aproveitavam”, e eles nunca reagiam. E ela desde criança achava aquilo estranho. No seu próprio núcleo familiar, sempre era de reclamar quando não gostava das coisas, e, quando foi crescendo, passou a defender os pais quando via algum familiar querendo se aproveitar. Falava verdades, ficava com raiva.
Os outros irmãos agiam de forma passiva, semelhante aos pais. Esse comportamento era elogiado pela mãe: “Fulano e beltrana (falando dos irmãos) é que tem um temperamento bom, você tem um temperamento terrível! Ninguém vai querer casar com você desse jeito, você vai morrer só!”
Imagine ouvir isso a vida inteira. O que a criança internaliza? “Pra minha mãe falar isso, eu tenho algo de muito errado, e ninguém realmente vai querer ficar comigo”. Essa ferida é carregada até a vida adulta, provocando sérios danos na autoestima e problemas de relacionamento.
As palavras da mãe são internalizadas na forma de uma crença, que vira uma profecia. Os relacionamentos começam a não dar certo e a cliente pensa que a mãe realmente tinha razão, e reforça a crença. O que a cliente não percebe é que ela mesma, por ter ouvido tudo aquilo que afetou profundamente sua autoestima, vem tomando atitudes que sabotam os relacionamentos – desde a escolha dos parceiros até a dinâmica do relacionamento; atitude essas que muitas vezes nada tem a ver com as atitudes que a mãe considera como sendo “erradas”.
Quando ficou mais velha e começou a defender os pais dos familiares e sofreu as consequências. Os pais nunca sentiam o que ela fazia como algo positivo. Ela era repreendida e chamada de complicada, revoltada, briguenta… Os pais jamais viram o próprio comportamento como negativo. Para eles, a filha é que estava errada e merecia ser repreendida.
Veja que emaranhado emocional. Os pais passivos, submissos, aceitando tudo, achando que isso é um comportamento saudável. A filha era diferente desde criança. Era punida, comparada negativamente com os irmãos, para que desistisse de ser diferente, mantendo o sistema familiar como sempre foi. Ela não entendia como os pais podiam não compreender o seu ponto de vista, e ela, por sua vez, também não conseguia relaxar vendo os pais do jeito que eram, ou seja, também não os compreendia. Tudo isso gerou sérias dificuldades de relacionamento entre ela e os pais. Gerou também para a minha cliente, sentimentos de raiva, rejeição, que obviamente refletiram na autoestima e nos relacionamentos com os homens.
Já atendi casos de filhos que conseguiram se sobressair financeiramente muito além do patamar da família. O resultado? Raiva, inveja, cobranças excessivas, punição por parte dos familiares… O diferente, o mais bem sucedido mexe com os sentimentos de incapacidade, de frustração dos outros que não conseguiram se destacar. Isso faz o bem sucedido se sentir culpado, o que o faz carregar um fardo financeiro pesado de ajudar a todos. Pode ocorrer ainda de virar um jogo sem fim de insatisfação e culpa: o que é bem sucedido se sente culpado, ajuda todo mundo, ninguém aproveita, nem reconhece, nunca acham que está suficiente e ainda o rejeitam, e ele continua ajudando para ver se um dia as coisas mudam.
O que ocorre muitas vezes e nem nos damos conta, é que em alguns casos desejamos ser diferentes, melhores, mas como sentimos de alguma forma que isso vai perturbar os outros membros, terminamos nos sabotando para não crescer.
É claro que não é em todas as famílias que esses extremos ocorrem. Em níveis mais intensos ou menos intensos, em algumas áreas mais e em outras menos, essas resistências sempre vão existir dentro de uma família. É mais comum do que imaginamos e não temos ideia do quanto sabotamos o nosso crescimento para não atingir os outros familiares a fim de evitar a rejeição, ou a falta de identificação. Ser parecido gera uma identificação mútua que não desejamos perder...
O artigo continua ...
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