864 __ FOGO QUE QUEIMA __ 11/01/19
Ainda não eram nem 6:30 e o termômetro já marcava 25 graus. Eu tinha cruzado a cidade, de um terminal a outro. Chegaria ao meu destino muito antes do horário marcado, não tão seca quanto saí de casa. Eu sinalizava o meu desconforto, abanando desesperada, o ar quente com meu leque, os óculos incomodavam, o desodorante vencia, a roupa grudava, a irritação crescia, acho que até meus olhos suavam. Era um fogo que queimava sem se ver.
Dava pra sentir um peso no ar, não dissipado pelo frescor da noite, que aliás tinha sido tórrida. O calor, já vinha se arrastando de muitos dias e tinha minado a nossa resistência física. Andávamos apressados mais por força do hábito e do dever, do que por disposição, propriamente dita.
Tenho a impressão de que, naquele momento, se de repente soprasse um vento frio sobre minha pele, eu teria um arrepio, de tão molhada que eu estava. Se eu fosse um pássaro, estaria de bico aberto.
Um avião cortava o céu ... será que lá em cima também estava quente, tanto quanto aqui? A sensação que se tinha, aqui no chão, é que éramos lesmas nos arrastando sobre pedra quente, deixando rastros melequentos de nossa vitalidade, por todo o trajeto feito.
E o dia, apenas começava. Prometia horas longas e penosas, a menos que pudêssemos nos acomodar na geladeira - apenas um pensamento inocente!
Toda a água que evaporava do chão, dos nossos corpos, da vegetação, de tudo que era vivo e até das nossas ideias, não ficaria lá em cima, nas nuvens; porque é peso demais pra ficar suspenso por muito tempo. A chuva seria bem vinda, mas onde quer que caísse o toró inevitável, seria assustador, barulhento e catastrófico.
Eu queria estar naquele avião, do lado de dentro dele: indo pra algum lugar geladinho; ou do lado fora dele: me segurando em sua asa, tremulando com o vento frio, como se uma fosse uma flâmula colorida e comprida, refrescando cada parte de meu corpo.
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