sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

871 __ ATÉ A ÚLTIMA CAIXA _ 18/01/19



catrin welz-stein



É como se a casa estive vazia. Sem objetos, em que o som pudesse bater, ou  que sobre eles se espalhasse, amortecido.

Se espremer um pouco, sempre sai alguma coisa, muito embora, aparente estar vazia - não está! 

Só escuto o eco de meus pensamentos e questionamentos, reverberado pelas paredes lisas e sem cor.  Os mais violentos, chocam-se contra elas, quicando como bolas e retornam ao meu rosto, com pontos de interrogação, certos de que eu tenho a resposta ou a solução.  Os mais tímidos, se estatelam contra a mesma superfície lisa e escorrem como gosma gelada, nojenta e pegajosa, de volta a mim; e através dos meus pés, se reintegram à minha constituição, para voltarem a fazer parte dela e engrossar a egrégora mental, na qual estou imerso.  

Solitário, num oceano profundo e escuro, rodeado de outros que não consigo enxergar, fico boiando sem nadar e balbuciando, com a boca de um peixe - tentando articular algumas palavras, formar frases que tenham algum sentido.  Como pássaro de asas sem função, vagando num céu de limites finitos.  Sensações estranhíssimas!

Onde foram todos? Pra onde foram os meus pertences, aos quais demonstrei tanto apego?

Todos estão em mim, eles não saem de mim.  Saí de perto deles, mas os levo comigo.  Meus pertences também os carrego, numa mala fictícia que criei para guardá-los, como se eu os pudesse levar comigo - porque eu posso! 

Não os levarei em matéria, mas na verdade, mesmo sem gavetas, levarei a todos e a tudo, junto a mim,  na minha última caixa - nas formas/pensamentos, que não se separam de mim.



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