quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

582 __ UNS POUCOS INSTANTES __ 06/12/17



arte | ruth bartlett


Eu percebi que os meus sentidos haviam desaparecido do meu rosto, todos!

O calor, a cor, a maciez, a expressão, tudo havia fluído pra baixo dos meus pés, ou abaixo deles, tinha saído por um orifício feito no fundo, como se faz num recipiente intacto, pra drenar o líquido que ele contém. Eu me senti um líquido, escorrendo pra baixo, por culpa da gravidade e virando pedra. Meu corpo nada sentia, era apenas um duto, uma tubulação por onde passava toda a vida de volta à terra, eu não precisava olhar pra baixo pra saber o que acontecia.

Por instantes, eu fiquei assim - fria, transparente, rígida e paralisada numa expressão inexpressiva, que eu diria,  um misto de pavor e desalento.  Meus músculos estavam caídos e fixos, sem poderem demostrar o que acontecia dentro de mim.  Estava lívida!

Poucas vezes na vida tive essa sensação, e eu digo sensação porque o cérebro demora a reconhecer o que se passa, são uns poucos instantes em que não se sente nada explicável, não se demonstra nada, apenas se tem a horrível ideia de desvanecer - quando todos os elementos químicos que compõem um corpo sólido, se rarefazem até se dissiparem, dispersos por completo na atmosfera.

Fiquei surpresa, e muito, porque não poderia imaginar que essa reação, eu a teria diante de um médico, justamente a pessoa da qual esperamos sensibilidade e acolhimento.  

Felizmente, aquele, é apenas um deles, existem outros tantos capazes e maravilhosos, partilhando conosco todas as dores, nos fazendo crer que podemos tornar todos os problemas - enfrentáveis - e eles são!



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