quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

48 __ PÓ E SILÊNCIO __  29/07/15 em 12/12/15








Fora sempre pessoa de língua muito eloquente.  Portadora de uma transparência quase indecente, capaz de fazer virar do avesso a alma e de não deixar senão uma folha de parreira a cobrir suas vergonhas.

Aos ouvidos moucos, a assertividade é um coçador que incomoda.  Aos olhos fechados, desenhar é desnecessário e incompreensível. 
Às feridas purulentas, as moscas são indesejáveis...

Confesso que, para minha eloquência, qualquer sentido, que a tivesse captado seria lícito. Teria obtido êxito!

Mas eu não me dirigi à massa cinzenta, que mora no sótão isolado e sombrio. Entulhado , onde se assenta em seu trono, de onde não delega poderes e comanda a casa.

Tentei o tecido vermelho irrigado, de muitas portas, que ao se expandir, recolhe, reconforta e retém junto de si.

Esse cômodo quente, bem no meio da casa, muito próximo da cozinha, do quarto de dormir. De muita circulação e aconchego que possui uma lareira sempre acesa. Foi em vão!

Estamos eu e minha eloquência, ou ela e eu, cansados de bater à porta dessa casa sem jardim... Nossas mãos estão doídas de tanto insistir sobre a madeira rústica e maciça, sem tinta nenhuma. Trancada por dentro... E ninguém nos atende, não nos ouve!

Batemos há muito! Lá dentro há apenas móveis cobertos de panos brancos cheios de pó e silêncio.

Desistimos. Eu desisto, é só silêncio! Também, nem quero mais entrar! Perdi o interesse. Ninguém vive lá. A casa é vazia!


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