arte | 'crack open' by christian schloe |
É impossível deter o pensamento, pedir a ele que não pense por ora - por me faltar no momento, caneta ou papel, ou os dois, ou por ser madrugada, porque é inconveniente. Convencê-lo a parar de pensar, até que chegue a hora adequada, para que nenhuma ideia se extravie ou se perca.
Ele na sua febre delirante, transpira e não faz acordo - é inútil tentar. Eu vencida e quase contra a vontade, cedo à sua insistente compulsão de criança impetuosa - que também é minha.
Exercito ao máximo a minha memória, escrevendo palavra por palavra, cada frase e parágrafo. Quando não é mais praticável manter a fidelidade, porque pode escapar algum detalhe importante, apenas confiando nas anotações mentais - eu me rendo.
Me deito às linhas, em nudez e transparência, como se me deitasse à cama, sem nada que cobrisse a minha pessoalidade - com meus sentimentos à mostra, circulando pelas veias aparentes da pele clara, exibindo minhas protuberâncias de apego e rachaduras estruturais causadas pelo tempo e caráter - numa óbvia e indecente exposição.
Sinto que entrego à ciência, não o meu corpo, mas a minha alma, para minuciosa dissecação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário