Enquanto caminho, o passado me acompanha.
Deixo pra trás as flores secas e murchas, nos vasos sem água; as fotos amareladas e roídas nas pontas, gastas de sangue e vida, desprovidas de cor e luz. Ficam, as portas entreabertas, indispensáveis de serem trancadas, pois as revisitas são constantes. Tornarei a vê-las, as flores, as fotos, a falta de cor.
Estão sobre a minha cabeça, os arcos da arquitetura antiga, iniciados redondos e finalizados com pontas bicudas. Arcos quebrados e góticos em formato de uma ogiva que sobe, e só Deus sabe onde irá cair! Cada um é composto de duas estruturas instáveis, dois arcos, caindo em direções diferentes, que ao se oporem em forças, acabam por se fortalecerem, no ponto exato da junção dos dois, numa volta imperfeita. Eles me mostram o quanto minha estatura é pequena, e que por mais que eu ande, ainda estarei sob eles.
Estou do lado de fora da porta de vidro, antes colorido (lembro-me das cores, mas não as enxergo) e vejo o vulto de quem, não me abriu a porta, não me deixou entrar.
Os barcos estão virados sobre a areia, o mar não está pra peixe, nem pros homens, nem pras mulheres.
Vivo como se vivesse duas épocas diferentes, misturadas e confusas, uma colorida outra não, ambas com sensações. Pequenos laivos de memória, que se alternam à minha frente e atrás de mim, torturando-me numa sequência não linear. testando a minha capacidade de conservar a minha lucidez.
Fonte de inspiração: "Byzantium - Uma vida eterna" da NETFLIX
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