quarta-feira, 31 de outubro de 2018

551 __ ONDE É QUE ESTÁ ESCRITO?  __ 31/10/17






Eu sei que as respostas estão aqui. Onde mais?

Vou precisar jogar o jogo do 'ligue os pontos', pra chegar até elas.

Onde as coloquei, que de tão bem guardadas, não as encontro?

Onde foram inscritas?  Em códigos, numa combinação secreta de algarismos e letras - a chave da fechadura?

Talvez eu necessite de alguma claridade, antes de quebrar uma janela ou inventar uma porta.

Ajudaria, uma pequena chama acesa nesse cômodo de 'acumulador'.  Acesa por mim, ou por outra pessoa, que me permitisse ser possível garimpar, em meio à bagunça do desnecessário,  meus verdadeiros tesouros.

Descobrir que os tesouros que procuro, não estão nos garimpos alheios e sim no meu - ainda que bem escondidos.


812 __ O MURO E O BURACO __ 31/10/18






Construíste um muro em volta de ti.  Cavaste um buraco e nele te colocaste.  Os muros te mantiveram afastado e a salvo, o buraco se tornou tua trincheira.  Ninguém de ti, pode se aproximar, porque o muro ficou muito alto.   A trincheira não era necessária - pois não havia guerra.

Hoje, reclamas da distância, e de que ninguém te procura.  Permaneceste muito tempo entre muros, e ainda estás.  Ficaste muito abaixo do chão, local onde te pudessem ver.  Sempre defensivo, na impenetrabilidade, dentro de barreiras e obstáculos imaginários, impostos a nós, incômodos, construídos não por outras pessoas - mas obra tua.

Longe dos olhos, do contato e da convivência, ilhado sem estar numa ilha e sem mar, te deixaste ficar, distante - o teu coração dos demais corações.  Fechaste todas as portas que se tentou abrir, frustrando toda possibilidade de aproximação.  Faltaste em muitas ocasiões importantes.  Negada foi a tua participação, quando era esperada.

Não restou outra opção, senão aceitarmos o que se mostrou impossível de se modificar, por respeito, até mesmo por desistência e cansaço de nossa parte.  Com o tempo, isso virou coisa normal, ninguém mais perguntava sobre ti.  A vida passou, seguiu.  

Quem determina o quanto faremos falta, somos nós mesmos.  De que maneira?  Estando presentes, participando, compartilhando todos os momentos, sem garantias de boas emoções, sem certezas de satisfação ou qualquer tipo de recompensa rápida e prevista.  

Às vezes, nos momentos mais tenebrosos, é que existe a chance de nos aproximarmos das pessoas, ao darmos a nossa contribuição, da forma que for, com a nossa simples presença presente, dando a ela um pouco mais de segurança, sairemos satisfeitos conosco mesmos, o que acaba  por fortalecer o vínculo, seja ele qual for. 


É o que diz o ditado popular, muito sábio e verdadeiro:  "Quem muito se ausenta, uma hora deixa de fazer falta."  A tua presença se faz desnecessária, porque tu não te fizeste ver, ouvir e sentir.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

44 __UM OLHAR SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO
FÔRMAS E FORMAS
29/10/17



arte | asili



O toque frio da pérola com a pele humana é semelhante à aparência da nossa resistência à dor, quando adquirida.  Não nos remete à concha fustigada pelo grão de areia invasor.  A pérola em contato com a pele rouba calor, a aparente frieza de nossa resistência não é de graça.

Os pensamentos entram na mente por uma porta giratória, se demoram um certo tempo por lá, emaranhando-se com os que lá já existem, e saem pela mesma porta.

Podem voltar, ou não.  E por não voltarem, quase me esqueço deles, tenho uma vaga lembrança, com a estranha sensação de que passei por uma lobotomia involuntária, sem certeza de que seja real.

Podem ser, um dragão empoleirado sobre um castelo em chamas, ou as bochechas redondas de uma criança dormindo no berço...

O movimento anti-horário da porta, que não tem trava, é constante e intenso – e é surpreendente o quanto pode caber lá dentro!

Oficina eficiente e eficaz pra trabalhos específicos de transformação e aprimoramento – onde nada se perde.

Conhecimentos e pensamentos que permanecem guardados há tempos, encontram serventia.

A mente opera processos que nos escapam ao ‘racional’ – que não conseguimos explicar.

É um instrumento, que quanto mais se desgasta mais forte fica - capaz de alterar a matéria e renovar o mundo.

Como?  É desse laboratório que saem as novas fôrmas que darão origem às novas formas.

550 __ RODOPIO __ 30/10/17





Pela força centrífuga
... bateram em fuga.
Os pensamentos meus
... eu lhes disse adeus!
Livrei a cachola
de toda caraminhola!

Me deixei levar
e comecei a rodopiar
sobre um único pé.
Foram morar no rodapé!


segunda-feira, 29 de outubro de 2018

811 __ DESUMANA __ 29/10/18




Sabia que naquele dia, seria preciso pegar no tranco, porque a minha disposição tinha zerado, há umas 36 horas, pelo menos.  A semana ainda não acabara, mas eu sim.  Eu estava tão preguiçosa quanto o sol. 

Subi a ladeira bem devagar, respirando fundo, usando até a última porção de ar, para chegar até o ponto de ônibus, que não demorou a passar.  Não por estar ofegante, mas por falta de pernas, que se mostravam pesadas e não queriam responder ao meu comando, foi difícil chegar ao topo.

O verde-vegetação era a cor mais rara de se ver, exceto pela roupa das pessoas, que decidiram vestirem-se com ela.

Já à caminho do meu destino, vi o pinheiro, ao fundo da marmoraria - inatingido pela fúria do homem, cuja indecência deixou sobrar, sozinho.

Para cada animal silvestre comercializado, dez morrem.  Quantas espécies ao lado do pinheiro teriam morrido, para que ele fosse poupado?  Tal  ato, teria sido por bondade, descuido ou capricho?

Conhecendo a índole humana, afirmo que por seu extremo capricho e egoísmo!  Pelo fato de ser imponente e exótico - tinha sobrevivido à fúria desumana.


549 __ DAS RANHURAS E RACHADURAS __ 29/10/17





Ranhuras, sempre devem existir em mim, pra  que eu possa me encaixar ao ressalto de uma outra parte, que me faça melhor, menos imperfeita.

Rachaduras, devo cuidar pra que por elas entre o que é preciso dentro de mim, e que através delas eu possa drenar o que não me serve mais.  Se possível for, por elas espero que vertam as gotas que podem irrigar a estrada dos que vierem depois.

Através das ranhuras e rachaduras, farei as modificações necessárias, e poderei manter meus sentimentos, pensamentos e ações numa linha de harmonia, pra obter um caráter íntegro, perante mim mesma.



295 __ VAZIO __ 29/10/16


arte | agnes cecile



Esse vazio – vem de onde?
Em que tempo se esconde?
Por que, quando falo, não me responde?

Deve habitar nas profundezas ...
e aventura-se a vir às redondezas ...
impedindo que eu veja as belezas ...
questionando todas as certezas!

Decerto, um ser invertebrado
que me faz sentir inadequado
com seu pássaro de bico esfomeado
devorador de tudo que lhe é dado
que tudo arremessa a um buraco inacabado!

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

548 __ MINHA NOVA VERSÃO __ 28/10/17






Das raízes brotarão os meus pés
do meu tronco, as pernas, o abdome, o peito.
A cabeça ficará em meio à copa das folhas
os braços, misturados entre os ramos
todos, em direção ao alto!
As flores trarei nas mãos!
A seiva, percorrerá todo o meu ser
até que faça pulsar de novo o
meu coração!


547 __ A VIRADA __ 27/10/17







Era 31 de dezembro, noite da virada, em que as pessoas se programam sobre o que fazer, comer, beber e vestir.  Alguns preferem o branco – por tradição ou pelo efeito da cor nas fotos.  Outros escolhem outras cores, até por rebeldia.  Uns se contentam em vestir o que têm.

Ela escapou do branco total, tinha escolhido pra aquela noite, um vestido branco com pequenas listas azul marinho.  Era algo bem atual, com babado na barra e nas mangas – uma verdadeira pechincha.

Escolheu brincos azul royal, de pedras brasileiras pra usar junto, correntinha, pulseira e anel dourados.  Usaria um tamanco de verniz branco, com sola de cortiça – perfeito!

Cuidou do cabelo – encaracolou as pontas.  Caprichou na maquiagem, acertou nos tons – deu destaque aos olhos.  Passou um perfume que havia ganho e guardado pra essa ocasião.

Depois de todo o preparo, colocar o vestido foi a última coisa que fez.  Olhou-se no espelho e gostou muito do resultado, tinha superado a expectativa.  Até seu cabelo tinha colaborado – e as mulheres sabem o que isso significa, coisa rara.

Estava se sentindo muito bem, confortável, vestida adequadamente pra ocasião e local.  Sabia disso.  Embora simples e discreta, a sua escolha lhe caiu bem.  Preferia sempre pecar pela falta, do que pecar pelo excesso de adornos.

Foi nessa hora, em que seu marido, como quem não entende nada de estilo ou delicadeza, olhando pra ela, a mirar-se no espelho, fez o seguinte comentário:

“Você vai com essa roupa esquisita?”

Como em outras oportunidades, teria sido um balde de água suja, despejado sobre ela – capaz de desmanchar o penteado, encharcar sua roupa e desintegrar sua autoestima.  Dessa vez não.

Pela pausa de silêncio que se fez, parecia até que tal comentário passaria em branco.

Aí então, ela com uma voz calma e assertiva, fez a pergunta:

“Quando foi?”

Ele não respondeu, porque não entendeu, achou que ela começava um outro assunto.

Ela perguntou de novo:  “Quando foi?”

Ele, invocado disse:  “Quê? Foi o quê?”

Aí então ela fez a pergunta completa:

“Quando foi que você me fez um elogio?”

Ele não respondeu, não tinha a resposta.

Mas ela tinha e falou:  “É de sua essência ser rude, sempre tentar acabar com a alegria do outro!”

Se antes ele não tinha resposta, agora muito menos, se calou por completo.

Ela acrescentou com a mesma calma e assertividade:  “Eu estou me sentindo muito bem e sei que estou bonita.  Guarde a sua opinião pra si mesmo!”


Ele continuou sem palavras - não porque tivesse mudado de opinião a respeito – mas porque, pela primeira vez ele entendeu, como se ela tivesse ‘desenhado’ isso pra ele – que a opinião dele não fazia a menor diferença pra ela!


810 __ SOB OS OLHOS DO POETA __ 26/10/18







O olhar de cada poeta
é um tanto, visionário
vê, mensagem secreta
no fato usual do cenário
para além do sistema binário.

É certo, entortar a vista
e assim engrossar a lista
das coisas inimagináveis
e fugir das presumíveis.

Entre o possível e o não
tem sempre muito chão.
Certo, que todo poeta tem
um poderoso arsenal
que usa como ninguém
sondando o bem irracional.

Tem mil formas de descrever
a simples formação rochosa:
... como perfil de mulher
... sendo um botão de rosa
... torre que espeta o céu
... ou bordas de um camafeu.

No certo, o errado é barrado
no errado, o certo
na certa, está por perto.
É isso o que ele vê.
É nisso que ele acredita.
Se é isso o que você lê
entendeu toda coisa contradita.
Esta, é dele, a desdita:
que toda verbal eloquência
não lhe permite acertar a rota
para sua melhor vivência.
 E toda poesia se desbrota!


quinta-feira, 25 de outubro de 2018


FRASES | PENSAMENTOS | POEMAS __ CAIO FERNANDO ABREU






"Eu sei que dói.  É horrível. 
Eu sei que parece que você não vai aguentar, mas aguenta. 
Sei que parece que vai explodir, mas não explode. 
Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar."




"Menos pela cicatriz deixada, uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva."



"Mesmo sem compreender, quero continuar aqui onde está constantemente amanhecendo."





Caio Fernando Loureiro de Abreu foi um jornalista, dramaturgo e escritor brasileiro. Apontado como um dos expoentes de sua geração, a obra de Caio Fernando Abreu, escrita num estilo econômico e bem pessoal, fala de sexo, de medo, de morte e, principalmente, de angustiante solidão. (12/09/48 - 25/02/96) Wikipédia

546 __ UM BOM DIA __ 26/10/17



arte | jamie heiden



A felicidade sempre morou ao seu lado,
a uma parede de distância,
ao alcance da mão.

Ele nunca dignou-se a bater-lhe à porta,
fazer-lhe uma visita.

Ou forçar um encontro casual, na rua,
pra sentir como ela era boa.

Imaginou sempre, bons muros entre os dois,
altos e grossos, aos quais escalava, às vezes,
curioso, pra espiar como vivia a vizinha.

Não teve a coragem de abrir a janela de sua casa,
toda a vez que ela passeava pela sua calçada.

Não conseguia olhar em seus olhos
e nem lhe dar um bom dia.


20 __ BALA DE ANIS __ 26/10/15







Antes que outubro se acabe, devo contar-lhes uma história.  É sobre minha infância, de como a senti e de como eu me lembro dela.

Crescemos no quintal da casa da vó, nós quatro, eu a mais velha; numa escadinha de dois em dois anos, depois meu irmão, minha prima e minha irmã.

Poderia falar sobre muitos acontecimentos durante esses poucos anos... Minha irmã odiava mantecal. Eu gostava de "delicado" que o vô comprava a granel, embrulhado em papel comum... Eu adorava as azuis, gosto de "anis", então eu comia as de todas as cores e deixava minhas preferidas por último. 

Brincávamos de praia, sabe o que é isso? O sol deixava sombras no chão, onde era claro era a água, onde dava sombra era a areia. Eu gostava de brincar de escritório! As brincadeiras mais loucas eram para os outros três, mais novos. Tinha uma que causava medo: era pegar um espelho e colocá-lo debaixo do nariz para que refletisse o céu, e andar sem saber onde pisar! Parecia que íamos cair... Nem sei quem inventou!

Comíamos doces baratos e éramos felizes! Só tínhamos aquele quintal e era grande o bastante pra correr e crescer! Acho que lidamos bem com as "minorias", falo sobre como nos entendíamos(às vezes não muito) com meu irmão, que era o único homem da turma.

Lembro da hora do banho, era quase uma linha de produção. Do mais velho ao mais novo, essa era a seqüência, só alterada pela minha prima que ficava com os dedos enrugados e era deixada sempre por último.

Para eles eu era a mais chata, porque minhas idéias eram diferentes das deles! Mas a cumplicidade e o amor eram presentes! Até hoje somos muito ligados, a felicidade de um é a do outro e a dor do outro é a dor de todos!

Pudemos desfrutar do carinho de avôs, de pais, tios e amigos! Cada um tomou seu rumo, como era previsto! 

Antes que fôssemos cuspidos para fora do "feroz carrossel da vida", tivemos a noção exata do que é "ser feliz". É essa lembrança que nos mantém de pé!



____  Dedico aos meus três irmãos!