sexta-feira, 10 de agosto de 2018

ESTÓRIAS E RIOS  __ 750





Se uma estória pára num certo ponto, ela pode continuar, a partir daí, sem alterações, se o ponto não for crucial. Ou se houver necessidade de reparação da estória, esta deve ser refeita, reescrita sob novos moldes.  Velhos moldes a reescreverão com os mesmos pontos. Um concerto magnífico, só nasce depois de muitos  e incansáveis pequenos consertos.

Quando a vazão de um rio está prejudicada, é preciso navegar, até onde se possa descobrir o obstáculo que impede a  fluidez das águas, e retirá-lo.

Uma estória é assim também, o mesmo se dá com ela.  O ponto crítico deve ser revelado, revisto e reformulado, sob uma segunda vista, a estória pode renascer.   A sua linha é uma só, portanto os pontos são sempre comuns para quem a vive.

Um ponto próximo dos primeiros afluentes, que desaguaram ferozmente, trazendo seus destroços, revolvendo o leito principal, comprometendo a transparência das águas, brotadas de nascente límpida e pura - se ignorado - condenam uma estória.

A vida das estórias e dos rios é parecida.  Coisas indesejadas, que deixamos permanecerem em sua linha ou em seu leito, acabam em algum momento, obstruindo a própria estória e o próprio rio, se não nos dermos conta de retirá-las de seus cursos.

Uma estória, de bonita se torna feia, um rio nascido puro, chega à sua foz, morto.  Não há vida num rio descuidado, muito menos numa estória sofrida.



__  Sad Cello Solo|Jean Vajean





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