ESTÓRIAS E RIOS __ 750
Se uma estória pára num certo ponto, ela pode continuar, a partir daí, sem alterações, se o ponto não for crucial. Ou se houver necessidade de reparação da estória, esta deve ser refeita, reescrita sob novos moldes. Velhos moldes a reescreverão com os mesmos pontos. Um concerto magnífico, só nasce depois de muitos e incansáveis pequenos consertos.
Quando a vazão de um rio está prejudicada, é preciso navegar, até onde se possa descobrir o obstáculo que impede a fluidez das águas, e retirá-lo.
Uma estória é assim também, o mesmo se dá com ela. O ponto crítico deve ser revelado, revisto e reformulado, sob uma segunda vista, a estória pode renascer. A sua linha é uma só, portanto os pontos são sempre comuns para quem a vive.
Um ponto próximo dos primeiros afluentes, que desaguaram ferozmente, trazendo seus destroços, revolvendo o leito principal, comprometendo a transparência das águas, brotadas de nascente límpida e pura - se ignorado - condenam uma estória.
A vida das estórias e dos rios é parecida. Coisas indesejadas, que deixamos permanecerem em sua linha ou em seu leito, acabam em algum momento, obstruindo a própria estória e o próprio rio, se não nos dermos conta de retirá-las de seus cursos.
Uma estória, de bonita se torna feia, um rio nascido puro, chega à sua foz, morto. Não há vida num rio descuidado, muito menos numa estória sofrida.
__ Sad Cello Solo|Jean Vajean
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