A visão era lúgubre e feia de se ver. Era cinza por
baixo, cinza em cima, cinza por todos os lados, até por dentro.
O mar não estava totalmente congelado, entre algumas placas distintas e separadas, ainda via-se a água límpida, num fundo cinza-escuro.
As chaminés fumavam como loucas, sujando ainda mais o céu, sem o mínimo respeito ou consciência, soltando um cinza-fumaça em forma de bafo.
Os barcos estavam parados, alguns atracados no cais, outros ilhados no meio do gelo.
A esparsa vegetação - a sobrevivente - parecia que tinha enfiado a cabeça debaixo da terra (como fazem os avestruzes), deixando as raízes para fora - assim era a forma, como ficaram suas copas peladas - idênticas às suas raízes, num cinza-claro.
O ar que também era cinza - um pouco mais escuro que as árvores - entrava pelas narinas cinza-arroxeado e descia pesado até os pulmões cinza-esverdeado. Se eu me olhasse no espelho, se tivesse a coragem de fazê-lo, sem dúvida meus olhos seriam dessa mesma cor, não veria minhas bochechas vermelhas de frio. Eram mesmo, mais que cinquenta tons.
Decididamente, eu não nasci aparelhada e provida para viver nesse tipo de ambiente, onde tudo muda apenas no tom, onde tudo é gelado e aparentemente morto.
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