sábado, 16 de janeiro de 2016

[Textos - 76 - "La soledad" - Janeiro/08]




Sobe a  escadaria escura e íngreme, degrau a degrau, estreitos; quem a apouco pisava pelas ruas frias, com seus saltos finos, aqueles que as mulheres deixaram de usar, há muito!  À noite todas as peles são claras e a maquiagem carregou no batom.  Longe da rua, numa sala mais ampla do que parece, a meia luz, vapores de álcool e fumaça pairam pelo ar.   Não foi lá para fumar ou beber.  Vestiu-se para dançar!

A música parece francesa...  Um piano, num desses bares do mundo, onde todos os ritmos cantam e dançam as histórias vividas ou não.  Algumas mesas ocupadas, poucos casais, homens solitários fazem argolas de fumaça com a boca, vidram seus olhos no líquido de seus copos. 

A música não é mais francesa, o som das maracas é puro!  Ela aproxima-se de uma mesa, onde um homem, pode se dizer a espera!  Ele se levanta e vai em sua direção, colocam-se próximos para o primeiro movimento da dança..  Lentamente iniciam seguros, acompanhando os sons dos instrumentos que se mesclam, como também o ritmo que evolui para um "meio" tango.

Alguém canta coisas de sua vida, enquanto os dançarinos se esgueiram em passos sincronizados, exatos.  Se deixam ver;  a brancura da carne através da fenda do vestido e a seriedade do rosto barbeado.  Uma mulher e um homem incomuns.  Impassíveis semblantes, debaixo do foco de luz; mas  não impassíveis sentimentos, que esquentam as mãos, antes frias.  Os olhos mergulham nos olhos.  Além deles ninguém mais dança.  Talvez seja muito tarde e o bar esteja prestes a fechar...  É a vida, ali cantada e dançada, é só o que se pode ter naquele espaço de contornos indefinidos pelos vapores saturados.  A que horas, em que lugar, em que país, em que época?


A boca pintada, entreaberta, prestes a falar.  Pequenas gotículas aparecem em seu rosto, desprende-se da sua nuca o perfume que ele conhece tão bem!  Executam a coreografia completa, fazendo valer o esforço da voz rouca que interpreta só para eles. 

Um encontro com hora marcada, em local específico e sincronia de movimentos, sem discursos ou declarações dispensáveis. 
Em circunstâncias estranhas para nós, não para eles!     




                           

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