[Textos - 76 - "La soledad" - Janeiro/08]
Sobe a escadaria escura e íngreme,
degrau a degrau, estreitos; quem a apouco pisava pelas ruas frias, com seus
saltos finos, aqueles que as mulheres deixaram de usar, há muito! À noite
todas as peles são claras e a maquiagem carregou no batom. Longe da rua,
numa sala mais ampla do que parece, a meia luz, vapores de álcool e fumaça
pairam pelo ar. Não foi lá para fumar ou beber. Vestiu-se
para dançar!
A música parece francesa... Um
piano, num desses bares do mundo, onde todos os ritmos cantam e dançam as
histórias vividas ou não. Algumas mesas ocupadas, poucos casais, homens
solitários fazem argolas de fumaça com a boca, vidram seus olhos no líquido de
seus copos.
A música não é mais francesa, o som das
maracas é puro! Ela aproxima-se de uma mesa, onde um homem, pode se
dizer a espera! Ele se levanta e vai em sua direção, colocam-se próximos
para o primeiro movimento da dança.. Lentamente iniciam seguros,
acompanhando os sons dos instrumentos que se mesclam, como também o ritmo que
evolui para um "meio" tango.
Alguém canta coisas de sua vida,
enquanto os dançarinos se esgueiram em passos sincronizados, exatos. Se
deixam ver; a brancura da carne através da fenda do vestido e a seriedade
do rosto barbeado. Uma mulher e um homem incomuns. Impassíveis
semblantes, debaixo do foco de luz; mas não impassíveis
sentimentos, que esquentam as mãos, antes frias. Os olhos mergulham
nos olhos. Além deles ninguém mais dança. Talvez seja muito tarde e
o bar esteja prestes a fechar... É a vida, ali cantada e dançada, é só o
que se pode ter naquele espaço de contornos indefinidos pelos vapores
saturados. A que horas, em que lugar, em que país, em que época?
A boca pintada, entreaberta,
prestes a falar. Pequenas gotículas aparecem em seu rosto, desprende-se
da sua nuca o perfume que ele conhece tão bem! Executam a coreografia
completa, fazendo valer o esforço da voz rouca que interpreta só para eles.
Um encontro com hora marcada, em local específico e sincronia de movimentos, sem discursos ou declarações dispensáveis.
Em circunstâncias estranhas para nós, não para eles!
Um encontro com hora marcada, em local específico e sincronia de movimentos, sem discursos ou declarações dispensáveis.
Em circunstâncias estranhas para nós, não para eles!
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