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FACA DE DOIS LEGUMES
Quando eu penso que aprendi de tudo, me aparece uma situação inusitada, para ser vivida incondicionalmente; esperando que dela eu esprema um novo aprendizado, sempre de gosto imprevisível, poucas vezes agradável. Na verdade, é a situação quem me espreme, e não eu a ela.
Na minha suposição, por estar já bem adiantada em anos e em experiência (era de se esperar, que detivesse todas as respostas!) ... me vem a vida e põe o meu mundo de ponta cabeça. E as minhas exclamações - que antes, eram as minhas certezas - se tornam verdadeiras facas de dois legumes. As antigas certezas (!), se modificam na entonação, se transformam em anzóis (?) ... que fisgam e ferem a minha carne, por não saber lidar com elas, como se eu fosse um pescador de primeira pescagem.
Ao acreditar que nada mais me atingirá, que nada mais será capaz de provocar em mim um grande estrago; sou surpreendida por um forte vendaval, que atravessa o meu caminho, me sacode, levanta as minhas saias e me enche os olhos de grãos de poeira - fico cega e desnorteada, durante algum tempo. Enquanto meus pés permanecem presos ao chão, eu poderia jurar, que acontece justamente o contrário.
Na minha acanhada inteligência, ao arriscar que já tenho de tudo o que preciso ... num simples solavanco, a vida chacoalha minha bagagem e me faz perceber, que há ainda, muito espaço a ser preenchido.
Quando eu suponho, que meu coração, já não baterá tão forte, como nos tempos de juventude ... vem a vida - essa sacana e indecente - com sua malícia e desdém pela minha convicção ... me fazendo despirocar nas ideias e padecer de taquicardia.
A contragosto, digo adeus às certezas - arquivo as antigas respostas. Certifico que estou viva e que sou ainda, uma criança. Dou boas-vindas aos novos questionamentos, melhor dizendo - me acostumo a eles. Enquanto estiver por aqui, a vida vai extrair de mim, um novo sumo; vendavais trarão novas perguntas; serei forçada a adquirir uma 'mala' maior e admitir, que quase nada eu sei.
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