DOR, BELEZA E PERFUME
Nem toda dor, depois de validada, deixa de doer. Tem aquela dor, que mesmo depois de doída, dói, e dói de novo, como a do espinho cravado fundo, que não se pode arrancar, sem arrancar junto, o órgão acometido de perfuração. Tem essa dor que é ingrata, que mesmo anestesiada, tem o poder de nos lembrar, que o tecido ferido permanece inflamado.
E quando essa dor, vem do órgão que não pode ser extirpado? E quando semelhante dor, vem do mesmo mal, que alastrou-se a outras partes?
Aí então, é deixar doer, para que assim nos lembre, a todo instante, que só quem vive, é que sente dor - os mortos nada sentem. Ah! ... como eu gostaria de acreditar - que em se cessando a vida, cesse a raiva; em se morrendo a carne, desapareçam as aflições do espírito.
Tenho eu, uma outra convicção, bem mais mórbida, porém muito mais coerente - de que a morte da carne não livra o espírito de suas impressões ... que o espírito se livra do peso da carne e pode ir para onde quiser, mas carregará o espinho, para onde for, bem como levará com ele, inseparáveis, todas as rosas germinadas no seu chão - com a beleza e o perfume originais.
01/02/21
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