quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

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A RIQUEZA DE ANTÔNIO

Arrasta atrás de si um destino ingrato, claudicando pelas ruas, a puxar um barulhento carrinho de feira, cheio de trecos, como quem tivesse ido às compras, mas não são compras, são cacarecos, garimpados do lixo ou doados por dó, que só a ele tem valor.

Seu nome poderia ser Zé, Chico, qualquer outro.  Não é um mendigo, não pede dinheiro; a única esmola que pede é de atenção, gosta de conversar com as pessoas.  Carrega às costas, um saco de nada, cheio de faltas, que lhe pesa muito, mas ninguém vê.  Num enredo caricato, segue a única vida que conhece - perambular pelo bairro, a mercê da misericórdia alheia e refém da chacota, daqueles que nunca passaram pelas mesmas dificuldades.  Mora de favor, não se sabe onde, come o que calhar, o que lhe derem - um lanche, um refrigerante, sob qualquer sombra de árvore, qualquer pedra ou degrau é banco para descansar.  É o homem do saco invisível, que leva às costas e nem por isso é pessoa má ou mal humorada.  Pode não ter nada além de seus cacarecos, mas tem muito mais, do que a maioria das pessoas de posses.  Pode ser que em algumas vezes, ele chore, mas eu nunca o vi revoltado ou triste.

Ele é a prova viva da real riqueza humana, independente do quanto ela possui em dinheiro ou coisas.  O seu tesouro não está nos cacarecos que junta, mas na humildade, com que aceita o seu destino.


03/02/21


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