1309
MAIS DO QUE SUFICIENTE
Deliberadamente, optei por romper os elos, que me remetem ao imutável. Se houvessem fotos de papel, eu as rasgaria, mas neste caso, como não há, eu as deletei. As lembranças físicas, eu as rasguei e queimei - não literalmente, é claro. As lembranças emocionais, ainda estão aqui, mas com o tempo se tornarão mais gastas e menos intensas, se eu deixar de alimentá-las. Dei o primeiro passo, o mais difícil ... e espero que ao final, me sobrem de herança, tão só, as doces e prazerosas recordações.
Implodi as estradas, porque interditá-las, não seria eficaz, eu voltaria a transitar por elas, de novo ... e eu sei bem onde me levam - às tristes reminiscências. Assim como, eu fechei a porta de acesso ao aposento sombrio, que apesar da escuridão e silêncio do seu interior, sei onde se encontra cada objeto, onde cada uma das cenas se passou - joguei a chave fora.
Até que o passado fique realmente, no seu devido tempo, é preciso coragem, porque um pouco de cada vez, é possível ser feito.
Calei as músicas, que me transportariam, sem que eu percebesse, ao lugar, ao qual não desejo voltar e que me faria reviver incessantemente, a mesma dor ... e diga-se de passagem, é mais do que suficiente, que ela seja vivida, apenas uma vez e não por tempo indefinido.
Deixarei que as lembranças, fiquem cada vez mais remotas, situadas na linha do tempo da minha memória, até se tornarem vagas ... e assim, a emoção há de causar menor impacto aos sentimentos.
Quando o peito arder, imperioso será, que o resto do corpo se desconecte desta sensação. Cortar o fio condutor que transmite a informação nervosa e fazê-la perder-se, outro passo muito importante.
Haverá momentos em que a razão, precisará usar seu metal congelado para estancar o sangue que verte do coração; depois disso, será necessário, que ela use do ferro incandescente, para cauterizar a ferida e garantir que não se abra de novo.
Para o bem de todos, há que a razão tenha a decência (apesar de escutar muito bem), de não dar ouvidos, aos lamentos do sentimento. Há que o coração, adquira nervos de aço, se acaso a razão perder o juízo.
21/02/21
Nenhum comentário:
Postar um comentário