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VICINO ALLA FINESTRA
Nas manhãs e tardes, andas displicente, pela rua da tua casa, dobrando as esquinas; ausente de si, ausente de mim. Meus olhos só te veem, sem te poder lamber ... e que mais infame provérbio, este, de deixar que se pense, ser possível lamber com a testa ... ora essa, se testa não tem língua ... meus olhos ficam só na vontade.
De dia, te vejo caminhando. Ausente de si? ... Talvez! Ausente de mim? ... Certamente! À noite, tua casa iluminada à meia luz, causa-me um profundo ciúme das paredes e um súbito desejo, em imaginar-te seminua, descalça e esvoaçante pelos aposentos. Improviso uma serenata, bem debaixo da tua janela. Protegido pela penumbra que disfarça minha figura, eu só quero embalar teus sonhos.
Eu conto, ao pé da tua janela, a estória de uma última flor, desabrochada bem no fim do outono, com todo o viço dos primeiros dias de primavera; mas por sentir-se só no jardim e por não ter pássaros e insetos a cortejá-la, tem seus dias abreviados e acaba por murchar antes do tempo. A mesma flor, que depois de seca, carrego entre as páginas de um livro de poesias e que quando, em minhas mãos ... apesar de, já não ser tão colorida como antes, em meus sentidos, guardo intactos, seu frescor e perfume.
vicino alla finestra - ao pé da janela
23/02/21
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