quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

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PISCA-PISCA __ 31/01/19







Sentei-me na lua, só pra observar o céu.
Estava escuro, mas não tive medo, era cheio de estrelas dependuradas, eu podia ver todas, piscando, em suas frequências e intensidades, como se cada uma tivesse uma quantidade diferente de luz, permitida pra gastar naquela noite.

Algumas eram meninas, outras já eram mulheres feitas, outras ainda, anciãs.  As meninas piscavam tão rápido, que eu não conseguia acompanhar.  As mulheres feitas, brilhavam de uma forma interessante, em intervalos precisos, como tentando me passar uma mensagem, em alguma espécie de código, ao qual desconheço.  Ao que me pareceu, elas literalmente davam longas piscadelas insinuantes pra mim.  As mais velhas, tinham um brilho um tantinho mais fraco, latejante, mas era preciso prestar muita atenção e perceber que também piscavam e eram senhoras de si.

Eu só olhava ao redor e acima.  Não me interessava olhar pra baixo.  Eu me senti um penduricalho opaco, no meio de uma árvore toda iluminada, em plena noite de Natal.

Era noite amena, em temperatura e vento.
A lua não era fria e até que macia ... vontade de descer eu não tinha.  

Eu me deixei ficar, bem confortável e em silêncio.  Enquanto não desse a minha hora de retornar, ficaria por lá, balançando as minhas perninhas no ar, porque o banco onde estava sentada, não podia ser mais alto.



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JANELAS ÀS PORTAS __ 31/01/19







Numa casa, o movimento se faz pelas portas, mas é pelas janelas, que entram a luz e novos ares, pela maior parte do tempo.

Portas, têm certos momentos de serem abertas e fechadas, as janelas também, mas a diferença é que as segundas, devem permanecer por mais tempo abertas, para que entre o que precisa entrar e saia o é que preciso sair.

Mesmo quando fechadas, as janelas podem nos oferecer uma paisagem do que se passa lá fora, através dos vidros;  na pior das hipóteses, podem ventilar pelas suas frestas, alguma esperança, quando dentro já não há.  Janelas nos mostram que existe muito mais no mundo, do que dentro da casa.

Portanto, é preciso mantê-las todas, em bom estado de conservação, coisa tão importante quanto a resistência das portas e suas respectivas fechaduras.

Precisam fechar bem, quando quisermos, serem sempre limpas, para que a transparência delas, não altere a inocência de ninguém e nem a nossa.  Se não conseguirem manter o 'desagradável opcional', do lado de fora ou se estiverem sujas, com vidros manchados (pois estes têm o poder de sujar uma atitude inocente, e transformá-la em culpada, dando à ela a mancha que não existe) - elas não servirão ao seu propósito.

Em nós, existe uma porta de onde deve sair o estritamente necessário, para não nos comprometermos sem necessidade, senão é melhor, mantê-la fechada e se a vontade de falar for grande - será melhor trancá-la.  

Tudo entra primeiro pelas janelas abertas -  quando 'vemos' ... e pelas suas frestas - quando apenas 'sentimos', mas tudo entra primeiro por elas.

Não me ocorre agora de quem é o pensamento: '"prefiro janelas do que portas", mas é bem isso o que gostaria de lhes dizer.



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AMEI __31/01/16







De todas as vezes que chorei

em todas - sem dúvida eu amei

amei quem não me quis

amei quem eu quis e me machucou

também amei quem me alegrou

que foi meu amigo, me acarinhou

quem comigo dividiu amor

e juntos nós o multiplicamos

amei até ... quem não soube dividir!



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DO VERBO INDAGAR __ 31/01/16




Arte | Paul  Émile Chabas -  "September Morn"


De que tamanho pode ser a dor?
Quais proporções pode ganhar?
Não falo da dor criada no outro!
Falo da dor guardada em si - quieta!
Daquela que se quer sufocar...
Quanta dor pode se esconder numa simples mágoa?
Quando um ciclo se finda e nos recusamos a sair dele  ... ele se fecha ao redor de nós - viramos seu prisioneiro!
De mágoa em mágoa ... não se enfraquece um sentimento?
Má água não dessedenta...
Uma  "má água"  pode azedar tudo!




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ENTREVER O QUE NÃO SE VÊ __ 31/01/16

  






Não preciso de óculos pra enxergar a vida.

Aliás ... enxergo melhor sem eles!

Eles só me fazem ver melhor as imagens.

no entanto, a vida se enxerga com a alma...

A deficiência visual é dos olhos!

Enxergo a beleza que não é das formas,

mas do que elas podem guardar dentro delas!


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MÁ INTENÇÃO __ 31/01/16

 




Quando vos falo, o meu propósito é de me fazer entender. O vosso é reflexionar sobre! 


Reflexionar e não refletir, isso quem faz é o espelho!  Ou seja - sou a pedra, um tanto trabalhada, sobre a qual  o sol deve incidir , para que  a ideia seja  trazida à luz, junto ao calor que dela se desprender, dando possibilidade à reflexão.

 

Sirvo-me  de indicativos que vos façam acreditar no que eu digo, usando meu poder de persuasão.  Me sirvo da familiaridade com  as palavras,  sem ousar o imperativo dos verbos, porque não pretendo coagir ... a escolha deve ser vossa ... para que não me venham questionar!

 

Vosso dever é duvidar, capacidade da cabeça pensante ... não aceitar de pronto uma verdade ou fato, que pode não ser vossa!

 

Vos conduzo ao desfecho, mas como duas idéias tão estranhas entre si,  que crescem juntas - sempre vos deixo reticências  - mesmo que não as escreva!  É essa,  a  vossa 'deixa', para entrar na narrativa e fazer vosso final alternativo.

 

Sou forçado por minha natureza, de vos fazer convencer, porém é impossível não desejar, implantar a dúvida em vossos corações,  ou pelo menos, neles jogar a semente...

 

'Se' existe uma tendência depressiva - quero que seja muito expressiva!

 

Havendo uma apatia - igualmente, me será de serventia!

 

'Se' a  tendência for à excitação - também dela me aproveito para atingir os meus fins!

 

Ao contrário do que se repete à boca grande: os meios é que justificam os fins. Os meios importam mais! É neles que nos demoramos  por mais tempo! 


Os fins são rápidos, sintéticos e carregam uma assustadora frieza, que ordinariamente não nos agrada!



quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

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DE OLHO NA PORTA __ 30/01/19






Do nada, os medos invadem
uma casa desprotegida
... num piscar de olhos ...
quando ignorada a porta aberta.
Quase prende os dedos
de quem a fecha com pressa.
Como crianças mal educadas
ou como os sem-teto
não respeitam propriedade
e ao verem um portão
descuidado e sem tranca
não perdem a chance.
Penetram pelas brechas
se infiltram pelos pontos débeis
aproveitam-se de uma distração
ou de pequeno lapso do sentinela.
É preciso depois fazer a limpeza
e que trabalhão que dá!
Eles sempre acham como entrar!


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ELA PRÓPRIA  __ 30/01/18







Imersa num oceano de dor, eu sou a própria.
Submersa na imensidão azul e verde, a única coisa de que me lembro é da cor do sangue venoso, parado nas veias, porque o ar velho não consegue sair do peito.  O mesmo ar que deu vida, agora carrega a morte, não permite que mais vida, entre.

Quanto mais fundo desço, mais frias ficam as águas.  Eu me recordo meio consciente, meio sonolenta, dos doces momentos, das literais tábuas de salvação, que nessa fundura onde estou, não existem.  Quer explodir no peito a máquina que não foi feita para funcionar nesse lugar fundo.


Num esforço excepcional, maior do que eu, impulsiono minha cauda imaginária e invisível, para subir à superfície e me fazer visível à possibilidade de ajuda - a que me é possível.  Enquanto ela não chega, estarei a acenar com as mãos - a minha localização.


As tábuas não salvam, diretamente - elas nos mantém na superfície de uma situação, até que o verdadeiro socorro aconteça.


A cavalaria não virá, nem a turma do resgate, o meu salvamento será segundo as forças de meus próprios braços e pernas!


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PLEONASMO __ 30/01/16






 


Posso tentar falar de tudo,
sem nada falar de nada!
Sou poeta 
e das primeiras tentativas...
Apenas algumas rimas!
O que importa a riqueza,
se não lhe corresponde a franqueza?!
Ou que me falte a competência,
de levar as idéias à transparência!
Talvez não haja coerência ...
e nem se encontre a seqüência!
Não por acaso ...
Sempre na redundância,
pode haver ...'certa coerência'...
se lhe adivinhar a seqüência!


terça-feira, 29 de janeiro de 2019

884


DO ZERO AO INFINITO __ 29/01/19 







És o rio que me leva ao mar
de hiatos à parcerias
nos entendemos.
Sou tuas margens ...
és as águas, onde me banho
... e que dessedentam.
Duas letras
de casas diferentes
que se encontram e juntas 
descem a montanha
dançam pelos relevos
rumo ao marco zero
da altitude.
Subimos, na verdade
ao infinito!


*


Hiato – do latim “hiatus”, cujo significado é aberturafendalacuna, abrangendo diferentes conceitos e aplicações.  Na linguística, é o encontro de dois sons vocálicos, cujas vogais se separam em sílabas diferentes.


612

O POETA E A HISTORIETA __ 29/01/18








O olho do poeta
aponta uma luneta
pra o que lhe afeta.

Quase uma lingueta
que carrega na maleta
de sua bicicleta
escancara uma janela indiscreta.

Quando nos fala da sarjeta
com palavras da gaveta
nos cutuca igual vareta
ou como quase, uma baioneta!


Ou nos aponta uma borboleta
com uma seta
bem direta.
Das cores de sua paleta
nos traz uma historieta
com tristeza lisboeta!


359 

UMA PÁ DE CAL __ 29/1/17


agnes cecile


Sempre achei que a cal, servia pra dissolver e fazer sumir um cadáver, mas ela só retira o cheiro ruim que dele exala, enquanto este apodrece.

Eu pensei, que pudesse extinguir um sofrimento, por completo, despejando sobre ele, uma 'pá de cal'.  E apesar disso, agora sei, que ele - o sofrimento, permanecerá deteriorando os tecidos - existindo - embora imperceptível ao olfato humano.

Isso é bem interessante, vem bem a calhar, deixar a podridão acontecer, quieta - enquanto os vermes fazem o seu trabalho.  Putrefação livre de odores!  Porque ninguém gosta de sentir maus cheiros, não é?


358 

PARADEIRO  __ 29/1/17






Onde se esconde ...
a lição não apreendida?
Anda por onde?
Na estante, no livro não lido?
Na pele, adoece em crescimento não concedido!
Ambos - cheios de fungo e  poeira!
No espaço, vagueia - é vivência esquecida 
... e a ferro e fogo - mantida!
Estará no inferno,  junto com a abortadeira!

O que é? ...  O que significa pra vida?
Um fruto, um feto sem chances?
Um futuro negado, talvez por crendices?
Decerto, no tempo - uma oportunidade perdida!


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PROSA E POESIA __ 29/01/16






É pincel  e  tinta  nas  mãos , 
vivifica as cenas  que  já estão desenhadas ,
nas cores  que  precisar!

É ela que  registra  a  agonia do sonho, 
que resiste à própria morte [sua recusa], 
que se preciso - vai ao povo e grita ... 
seus motivos e razões [sua defesa],  
pra viver um pouco mais!

Ela me conserva  a  sanidade, 
quando  despressuriza  o desespero.   
Imortalizo o luto que é imortal!
Se perco a linha do bom senso é porque sei ... 
que sou a voz dos que não tem voz!

Todos os sentimentos estão guardados 
em seus devidos compartimentos, 
atrelados às suas respectivas emoções  
e  palavras representativas...
até que sejam  ordenadas 
e ganhem um sentido.
A cadência  das  palavras  
é musica em meus ouvidos, 
é remédio  pra dor que  dói,  
analgésico mas não a cura...
Ao vício do qual sofro, 
não sou imune  e  também  não fico impune...  
quando me demoro em registrar as idéias, 
que fazem arder a mente, 
obsessivamente, 
até que eu, compulsivamente, 
me deixo conduzir pela força das palavras!